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Foto do escritor J. POVO- MARÍLIA

À ESPERA DE JUSTIÇA: "Minha alma sangra todos os dias", diz mãe de estudante morta em acidente há um ano


A mãe da estudante que morreu após ser atingida por uma caminhonete na contramão, na Rodovia Rachid Rayes (SP-333), em Echaporã, há exatamente um ano (29 de janeiro de 2023) diz buscar forças todos os dias para lidar com o luto pela morte prematura da filha.

Mana Mercadante, de 49 anos, ainda tem dificuldades para aceitar que a filha Catarina Torres Mercadante Leite do Canto, que tinha 22 anos, se foi tão cedo.

"Foi um ano muito difícil, doloroso e com sentimentos bagunçados. A dor é imensurável! Para se ter uma ideia, é um coração em carne viva, e não tem remédio. A minha alma sangra todos os dias", desabafa.

O carro conduzido por Catarina Mercadante foi atingido de frente por uma caminhonete que tinha como motorista Luís Paulo Machado de Almeida, na época com 21 anos. Ele responde por homicídio e irá a júri popular. O julgamento ainda não tem data para acontecer.

À época do acidente, o jovem disse em depoimento que cochilou ao volante e invadiu a pista contrária, provocando a colisão, conforme registro policial.

O motorista da caminhonete viajava na companhia de um funcionário e relatou que estava cansado no momento do acidente, pois seguiu direto, sem paradas, de Guará (SP) com destino a Londrina (PR). Ele testou negativo para a ingestão de bebida alcóolica.

No entanto, um vídeo mostrou a caminhonete realizando uma ultrapassagem proibida antes de bater de frente com o carro da jovem.

A testemunha que fez o registro e disse ter visto o acidente contou à polícia que o condutor da caminhonete seguia em alta velocidade e fazia ultrapassagens em trechos proibidos. Inclusive, o carro dele foi ultrapassado ilegalmente, conforme relatou à polícia.

Para mãe de Catarina, "lutar por justiça" enquanto tenta também compreender a dimensão do adeus à filha é uma das piores sensações de sua vida.

"Ver a vida dela tirada por uma irresponsabilidade me machuca todos os dias. A falta de compaixão pela vida alheia, pela família enlutada, tudo isso deixa o luto mais difícil. O amor de Deus tem nos mantido em pé. A fé me dá esperança para eu continuar e lutar pela vida", pontua.

"Antes de tudo tinha medo de morrer, hoje depois de passar pela maior dor do mundo, quero viver para honrar minha filha e lutar para que outras famílias não sejam dilaceradas como a minha", sentencia.

Família realizou missa de um ano do falecimento de Catarina, no sábado

Sonhos interrompidos

Catarina Mercadante estava no 4º ano do curso de medicina na Unimar e, segundo a mãe, era "dedicada nos estudos e muito responsável". Filha do meio entre três irmãos, a mãe afirma que dói pensar no que Catarina ainda poderia conquistar em vida.

"Ela tinha um sonho de ser médica, cuidar do outro fazia parte do cotidiano dela. O 'não poder acontecer mais'. Eu nunca vou ver minha filha se formando, casando, me dando netos, com certeza, uma parte de mim foi junto com ela", diz.

A mãe de Catarina conta ainda que a filha sempre foi muito próxima à família e que o último encontro entre as duas foi justamente uma despedida. Ela ficaria cerca de três semanas sem encontrá-la.

"A 'Cati' era uma menina especial, doce, alegre. Nos falávamos todos os dias, pelo menos duas vezes ao dia, rezávamos juntas, éramos muito ligadas. No dia do acidente, passamos o dia inteiro arrumando as malas, eu terminando de preparar as marmitinhas para o período que ela ia ficar longe", revela.

No sábado (27), os familiares de Catarina realizaram uma missa em homenagem à jovem, na igreja Vila Xavier, em Assis. Na ocasião, Mana leu uma carta que escreveu para a filha

Luís Paulo Machado de Almeida (direita) e seu advogado em audiência

Foto: Reprodução

Investigações e julgamento

Em decisão assinada pelo juiz Adugar Quirino do Nascimento Souza Junior, no dia 25 de maio do ano passado, Luís Paulo Machado de Almeida, acusado de provocar o acidente, vai a júri popular. Porém, a data do julgamento ainda não foi divulgada.

A audiência de instrução, debate e julgamento do motorista foi realizada na 1ª Vara Criminal de Assis no dia 17 de maio de 2023. Luís Paulo foi indiciado por homicídio envolvendo duas qualificadoras.

Uma delas por comportamento que possa resultar perigo comum, pelo fato dele estar supostamente dirigindo em velocidade incompatível com a via e ter feito uma ultrapassagem irregular, assumindo o risco de causar o acidente e pela impossibilidade de defesa da vítima, que não teve como evitar a colisão.

Segundo o juiz, "nesta fase processual, é cabível a desclassificação do crime de homicídio doloso para o delito de homicídio culposo". Isso pode ser feito, segundo ele, "quando restar estreme de dúvidas que o crime cometido é diverso".

O homicídio culposo é aquele em que não há a intensão de matar, diferente daquele que é classificado como doloso. Já o homicídio com dolo eventual é aquele em que o acusado assume o risco de matar.

Para o juiz, "há alguns indicadores que, em tese, geram possibilidades ou incertezas que poderiam ser consideradas para o hipotético reconhecimento do dolo eventual", mas lembra que "a competência para análise e decisão a respeito de tais elementos é constitucionalmente atribuída ao Tribunal do Júri".

A audiência contou com a leitura de uma carta pela mãe da vítima, Mana Mercadante, e terminou com a concessão de cinco dias para a defesa do acusado apresentar as alegações finais por escrito. O prazo se esgotou e o juiz realizou o pronunciamento.

"Estamos vivendo os piores dias de nossas vidas, enterrar um filho não faz parte da lógica", diz trecho da carta da mãe de Catarina. "Meu primeiro Dia das Mães sem minha filinha", completa.

Uma carta assinada por professores do curso de Medicina, em que a vítima estava matriculada, também foi apresentada. No texto, os docentes exaltam as qualidade de Catarina como aluna e ser humano e lamentaram a perda.

A denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) para tornar Luís Paulo réu no processo que investiga o acidente foi aceita pela Justiça em março de 2023 que negou o pedido de prisão preventiva solicitado pela Polícia Civil após a conclusão do inquérito.

A promotoria recorreu da decisão da 1ª Vara Criminal de Assis e Luís Paulo teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) no dia 2 de maio. Ele se apresentou à Delegacia de Ituverava (SP) em companhia de advogados.

No entanto, Luís voltou a responder o processo em liberdade após uma liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reverteu a ordem de prisão do TJ. A decisão foi cumprida no dia 8 de maio de 2023. O processo segue em segredo de Justiça.




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