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Revista Época destaca o saudoso Mestre Sabu. Família dele foi homenageada pelo prefeito de São Paulo

Dimitrius Dantas - Revista Época


Durante quatro décadas, antes de cada escola de samba começar seu desfile no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, a voz de Jurandir Oliveira, o Mestre Sabu, ecoava: “A passarela é de vocês! Arrepiiiia, rapaziada!”. O bordão atravessou eras, desde o tempo em que os desfiles aconteciam na Avenida São João, no centro da cidade.

Mestre Sabu emprestou sua voz ao carnaval paulistano pela primeira vez em 1974 e, de 1991 até o ano passado, foi o locutor oficial do Anhembi. Na segunda-feira (25) passada, dias antes de assumir o posto pela 28º vez consecutiva, ele morreu de embolia pulmonar em Marília, no interior do estado, aos 92 anos. VEJA AQUI

A escolha de um substituto teve que ser acelerada. De última hora, Aílton Alves, até então diretor da Unidos de Vila Maria, foi convocado para ser o locutor do carnaval paulistano.

Enquanto ele se preparava para o maior desafio de sua carreira, na noite da última sexta-feira, a família de Mestre Sabu recebia uma placa das mãos do prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB) e do presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Paulo Sergio Ferreira, o Serginho, em lembrança aos serviços prestados pelo eterno locutor.

Passadas as homenagens, Aílton assumiu o microfone do sambódromo e soltou o que ele espera que seja o jargão dos desfiles, livremente inspirado no trabalho de Sabu: “Explode, comunidade! O show é de vocês”.

“Eu vou ser sincero: a ficha caiu hoje. Hoje que eu estou percebendo a importância de ser a voz do carnaval de São Paulo. É algo magnífico para mim e vou me dedicar com responsabilidade”, afirmou Aílton.

Aílton Alves é a nova voz do carnaval paulistano Foto: Divulgação


O novo locutor falou com ÉPOCA logo após o primeiro dia de desfile das escolas de samba de São Paulo, já na manhã de sábado. Segundo ele, o novo bordão ainda não está na ponta da língua. Foi criado de última hora, com a ajuda da família. A palavra “show”, por exemplo, ainda pode ser substituída por "festa".

Aílton não quis repetir o bordão histórico de Sabu. Para ele, a expressão e a voz do mestre são inigualáveis.

“É uma voz que identificou o Carnaval aqui em São Paulo durante 30 anos. Eu vou dar uma continuidade. Com outro bordão. Substituir? Jamais”, disse.

A humildade de Aílton combina com a forma como iniciou sua carreira no Carnaval: por acaso. Em 2001, responsável por um programa em uma rádio comunitária, convidou integrantes da Vila Maria para um entrevista. Passado algum tempo, recebeu o convite da escola para divulgar as festas no Sacolão, como é chamada a quadra da agremiação. O locutor oficial se atrasou, e a direção da escola pediu para que Aílton fizesse as vezes de mestre de cerimônia.

A voz dele agradou e novos convites apareceram. Com o tempo, Aílton virou diretor de ala da Unidos de Vila Maria e responsável por apresentar os eventos na escola. Quando Serginho, o atual presidente da Liga e ex-presidente da Vila Maria, tinha que buscar um herdeiro para Mestre Sabu, já sabia quem procurar.

Curiosamente, Sabu também virou locutor do carnaval por acaso. Em 1974, ele estava assistindo aos desfiles como funcionário da prefeitura de São Paulo, quando foi avisado de que o locutor não tinha aparecido e convidado a substituí-lo. Foi ali que criou seu "arrepiiiia, rapaziada".

A transição, lenta, já havia começado ano passado: o CD dos sambas-enredo de 2019 já foi apresentado por Aílton, já que mestre Sabu vinha apresentando problemas de saúde. Há um ano, durante a gravação do CD de 2018, a nova voz do Carnaval se encontrou pela única vez com o Mestre Sabu.

“Eu estava com a Vila Maria, ele estava apresentando. Foi na hora que eu cumprimentei. Depois da morte e depois do convite que comecei a saber mais, conheci a esposa dele”, diz.

O carnaval de São Paulo vai ter que se acostumar à sua nova voz e ao seu novo bordão. A voz do Mestre Sabu estava presente desde o início da vida de muitos dentro do carnaval. É o caso do intérprete principal da Mancha Verde, Tami Uchoa. Na dispersão, admitiu: sem Mestre Sabu, ficou menos nervoso.

“É engraçado. O Mestre Sabu era um ícone do Carnaval de São Paulo, aquela voz, aquele bordão. Eu vou ser sincero: deu menos frio na barriga ter outra pessoa chamando. O Mestre Sabu me lembrava quando eu comecei. Eu fiquei mais tranquilo, era um ícone”, diz.

Deixando o Sambódromo na primeira noite como locutor oficial do Carnaval, Aílton esperava que aquele fosse o começo da sua história e que sua voz pudesse marcar os sambistas da mesma forma que a de Sabu.

“O “arrepia, rapaziada” era um marco”, disse, antes de completar: “Agora, o futuro a Deus pertence. Tomara, né? Explode, comunidade!






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