Morreu nesta sexta-feira (26) a segunda vítima do incêndio no Hospital Espírita de Marília (HEM). O pedreiro Hélio Dias de Andrade, de 50 anos, estava internado na Santa Casa de Catanduva, para onde foi transferido alguns dias após a tragédia, ocorrida na tarde do dia 7 de abril.
A outra vítima fatal, Diego Alexandre Carvalho Cardoso, de 34 anos, faleceu uma semana depois, na Santa Casa de Marília. O corpo de Hélio Andrade, que residia no Jardim Santa Clara, na Zona Sul de Marília, chegará em Marília na tarde de hoje.
FAMÍLIA DE DIEGO RECLAMA DA FALTA DE APOIO DO HEM
O casal Wolmir e Solange e o pintor Diego, vítima fatal do trágico incêndio causado por
um paciente em surto no Hospital Espírita de Marília
Além do sofrimento com a perda de um ente querido de forma tão trágica, familiares de um rapaz que morreu após incêndio em uma ala do Hospital Espírita de Marília (HEM), enfrentam dificuldades financeiras para pagar as despesas com o velório e sepultamento dele.
Diego Alexandre Carvalho Cardoso, de 34 anos,pintor, residia em parte de uma casa com a mãe, a cuidadora de idosos desempregada Solange Carvalho e o padrasto, o atendente Wolmir Rossilho D'Ávila, no Bairro Alto Cafezal, na Zona Oeste de Marília. A casa de madeira é alugada.
Após uma crise e em estado de depressão, na tarde do dia 6 de abril (um sábado) Diego, que era divorciado e tinha um casal de filhos menores, tentou o suicídio por enforcamento. Foi salvo por algumas pessoas que perceberam o ato e cortaram a corda que ele já tinha enlaçado no pescoço.
Ele foi encaminhado por familiares ao Hospital das Clínicas de Marília, onde após triagem, foi recomendada a internação dele no HEM. Diego concordou com a orientação. Ele a mãe, à noite, embarcaram em uma ambulância e se dirigiram ao Hospital Espírita.
Lá, Diego passou pela triagem e foi encaminhado para o setor onde ficaria internado. A mãe de despediu dele e foi embora. Seria a última vez que ela veria Diego, o primeiro de seus quatro filhos, lúcido.
Solange relatou ao JP que na tarde do domingo (7), parou uma Kombi do HEM na porta da casa dela, com três pessoas. "Me avisaram que tinha ocorrido um incêndio no Hospital e que meu filho estava com queimaduras, internado no Hospital das Clínicas e foram embora. Fiquei desesperada e fui até o H.C, onde não consegui entrar para ver meu filho. Na manhã seguinte, da segunda-feira, um funcionário do Hospital viu minha aflição e avisou o médico, que veio até mim e me levou para ver o Diego", lembra.
Solange desmaiou ao ver o filho entubado na UTI, com o rosto desfigurado. "Eu nunca tinha visto uma pessoa em estado tão delicado. E olha que eu já cuidei de pessoas com graves problemas. Mas a situação do meu filho era muito difícil e dolorosa".
No dia seguinte, Diego foi encaminhado para o setor de queimados (UTQ) da Santa Casa de Marília. Na noite do sábado seguinte (13), ao vistá-lo, Solange percebeu que ele estava com dificuldades para respirar e questionou as enfermeiras. "Elas disseram que era por causa das medicações". Na madrugada seguinte, recebeu a informação que Diego havia falecido.
O DRAMA DA FAMÍLIA
Sob o impacto e desespero com a notícia da morte do rapaz, a família iniciaria um novo drama: como pagar as despesas de funeral e sepultamento. "Liguei para um amigo nosso, por volta das 3h da madrugada e ele se prontificou a nos ajudar. Foi até o Velório e deu cheques pré-datados para pagamento de todas as despesas, inclusive o terreno no Cemitério, o sepultamento e tudo", disse Wolmir.
Passados dez dias do sepultamento, a família ainda não acertou a dívida com o amigo. "Alguns dias após o enterro do Diego, procuramos a direção do Hospital Espírita para tentarmos o ressarcimento das despesas com os funerais e pagar o amigo que nos ajudou nas horas tão difíceis. Mas não conseguimos. Em meio à nossa aflição, o advogado do Hospital queria que a gente assinasse documentos onde não poderíamos recorrer à Justiça para buscar nossos direitos. Diante disso, não conseguimos receber nada e hoje estamos, ainda sobre o sofrimento com a morte do Diego, perdendo o sono com angústia de não termos condições de pagar o amigo que nos socorreu", disse Solange.
Ela reclamou ainda que durante todo o transtorno e sofrimento da família, o HEM não deu nenhuma atenção. "Não nos ajudaram em nada, nem sequer um assistente social nos visitou".
HOSPITAL CONTESTA VERSÃO DA FAMÍLIA
Bruno Armentano, um dos gestores do Hospital Espírita de Marília, disse ao JP que o foi oferecido pagamento das despesas à família de Diego. "Fizemos uma proposta de pagamento que supria todas as necessidades, mas os familiares não aceitaram e já estavam movendo ação judicial. Diante disso, encerramos a tentativa de acordo e passamos o caso para o departamento Jurídico do Hospital resolver". Não foi revelado o valor oferecido à família.
O CASO DO INCÊNDIO
Na tarde do domingo (7), um rapaz que estava acompanhado de outros dois pacientes em um dos quartos HEM, usando um isqueiro, colocou fogo nos colchões.
Após o ato, ele correu e se trancou em um banheiro no quarto, que é bastante amplo. Ao perceber a fumaça, funcionários do Hospital acionaram o Corpo de Bombeiros.
Os dois que dormiam no momento do incêndio sofreram graves queimaduras. O fogo foi colocado por um outro paciente. o protético E.R.P. de 45 anos que teve um surto de distúrbio psiquiátrico.
Além de Diego, a outra vítima, um pedreiro de 50 anos, residente no Jardim Santa Clara, na Zona Sul de Marília, foi socorrido em estado grave. Ele segue internado na unidade de queimados da Santa Casa de Catanduva.
O paciente que causou a tragédia, foi isolado por internos em uma outra ala, após o incêndio, para não ser linchado por outros pacientes. Foi transferido para um hospital de Garça, onde também foi ameaçado pelos outros pacientes e ficou isolado.
Ele já havia sido autuado várias vezes por surtos psicóticos. A última condução dele foi no dia 2 de abril, quando dizia estar sendo perseguido e que ia morrer. Mesmo ao lado da viatura policial, ele ainda correu atrás de uma pessoa com faca, sendo necessário ser contido, algemado e amarrado.