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Foto do escritor J. POVO- MARÍLIA

Mariliense Gustavo Vilani, narrador da Globo, lembra da infância ouvindo jogos no rádio com o avô e



"O menino Guga de 5 anos sentava no colo do avô fanático pelo Corinthians, em Marília, interior de São Paulo, para ouvir jogos. Naquele lugar, Gustavo Villani aprendeu a amar o futebol. As idas ao estádio para apoiar o time da cidade, MAC, ensinaram os palavrões típicos de quem fica nervoso quando seu clube não está indo bem. O fanatismo era tanto que fez o avô esquecer o neto no estádio após o fim de uma partida"


Em um encontro que era para ser mais uma tietagem, coisa entre fã e astro, Galvão Bueno contou a Villani que o tinha indicado para trabalhar na Globo. Na semifinal da Libertadores de 2017, o então narrador da Fox pediu ao amigo de longa data Walter Casagrande para conhecer seu ídolo de infância. Uma foto e já estava feliz. Mas foi muito mais do que isso. Na ocasião, Galvão abraçou Villani e fez uma confidência: "Parabéns pelo trabalho, eu te indiquei para a TV Globo", disse o veterano. A resposta foi um simples "caramba". "Fiquei gago, foi ridículo, patético. Falamos de Champions, tinha tido jogo, era uma quarta. Era engraçado porque ele falava e eu não ouvia nada do que ele falava e eu não ouvia nada do que ele falava. 'O que esse cara tá falando comigo?'". Gustavo Villani deixou a cabine da Globo aquele dia para narrar ainda mais empolgado com o microfone da Fox. "Nesse jogo eu narrei pra cacete. Narrei feliz da vida. O tempo passou e agora, já na Globo, eu fui jantar com ele. Ele me contou que foram perguntar pra ele: 'Galvão, o que você acha desse menino?'. E ele disse: 'Eu conheço, muito bom narrador'. Ele meio que carimbou, mas isso não muda nada para mim", conta

"Não dependo de apadrinhamento" O problema é que essa indicação e o estilo semelhante ao do veterano fizeram Gustavo Villani ser alvo de comparações, especulações e fofocas. Há quem diga que o narrador é "apadrinhado" de Galvão Bueno, o que tira o sorriso do rosto de Villani. A cada manchete com esse tom, o jornalista tenta ficar menos sob os holofotes fora da cabine de narração. "Imagina que eu posso comprar essa história. 'Eu sou o novo Galvão, vocês não perdem por esperar'. Não, não tem nem cabimento. Construo meu caminho há 19 anos, e não dependo do apadrinhamento de ninguém. Dependo, sim, de uma equipe inteira, bons profissionais e bom ambiente. Isso, sim, faz a diferença em televisão", ressalta. Villani admite que no começo havia desconfiança por se tratar de "um novato na narração". "Isso faz parte da vida. É assim que eu levo. O que varia é o modo que cada um lida. Se tem, deve ter, eu procuro desviar disso. O meio muda muito pouco, é uma profissão que as pessoas não trocam de lugar com muita frequência. Então, quando chega alguém de fora, eu acho até natural que desperte diferentes sentimentos naqueles que estão lá há muito tempo, porque eles zelam pelo trabalho deles. Eu vou lá pra fazer o meu trabalho, não estou tomando nada de ninguém. Eu fui procurado para trabalhar lá.".

Amor pelo futebol veio do avô O menino Guga de 5 anos sentava no colo do avô fanático pelo Corinthians, em Marília, interior de São Paulo, para ouvir jogos. Naquele lugar, Gustavo Villani aprendeu a amar o futebol. As idas ao estádio para apoiar o time da cidade, MAC, ensinaram os palavrões típicos de quem fica nervoso quando seu clube não está indo bem. O fanatismo era tanto que fez o avô esquecer o neto no estádio após o fim de uma partida. "Ele me esqueceu na arquibancada. Ficou puto com o bandeirinha, jogou os dois chinelos e o rádio no bandeira, foi embora pra casa. Quando ele chega em casa, minha avó: 'Valter, cadê o Gustavo?'. 'Esqueci ele no estádio'. Fiquei sozinho na arquibancada até ele voltar", relata o narrador com um sorriso no rosto ao lembrar dos avós, que por sorte moravam nas redondezas. O gosto pelo futebol fez Villani escolher o jornalismo esportivo. Queria se divertir trabalhando, viajar. O interesse pela narração começou a dar sinais ainda em Marília, quando garoto. "Eu imitava os narradores e as propagandas. Eu lembro de todos... Eu imitava o Wolney Alonso, um locutor da cidade, que narrava os jogos do Marília. Eu narrava desde garotinho, brincando. Narrava botão, narrava enquanto estava esperando a minha vez do lado de fora, narrava os meus amigos jogando e por aí foi.".

Oscar Ulisses foi seu mentor Mas Gustavo Villani não saiu de Marília para virar narrador. Ele passou por várias etapas antes de ver a carreira ganhar forma. Foi estagiário, produtor e repórter na Rádio Transamérica. Lá, o então chefe Eder Luiz disse algo que o marcou: "pense além de ser repórter. O futuro como narrador pode ser uma boa". "A semente começou com ele", conta. Ele deixou a rádio, passou por outros lugares e decidiu dar um tempo para estudar na Espanha. Aos 26 anos e prestes a voltar ao Brasil, já com entrevistas com grandes nomes na bagagem, Gustavo não queria mais ser repórter e pediu uma oportunidade para ser narrador na Rádio Globo. Como daria certo um novato que nunca tinha narrado estrear em uma das maiores rádios do país? A oportunidade surgiu por sorte e vontade de aprender. O professor de Villani foi Oscar Ulisses, principal narrador da Rádio Globo. "Em 2007, fui procurar a Marisa Tavares, que era a superintendente da Rádio CBN, da Rádio Globo. Eu falei que queria tentar ser narrador, mas que não sabia por onde começar. Ela ligou pro Oscar e chamou na sala. Aí o Oscar falou: 'Narrar? Marisa, mas ele nunca narrou. Quer que ele comece na Rádio Globo?'. A Marisa disse: 'Vai começar na Rádio Globo. Eu preciso renovar os narradores daqui. Você é o meu principal. Você vai ensinar'", lembra o agora narrador da TV Globo.

Gustavo Villani topou aprender. Tudo era gravado e mandado para o professor, que ouvia com atenção e tomava notas. "Quando não tinha jogo, ele pedia para eu escalar dois times e inventar as jogadas, para ir ganhando ritmo, fôlego, improviso. Era um exercício de velocidade de raciocínio", explica....

Adaptação à TV aberta Antes da Globo, Villani nunca tinha narrado na TV aberta. Apesar do sucesso no Fox Sports, o narrador admite que ainda está se adaptando à emissora nº 1 do Brasil. "A gente atinge outro público, que não só o público do futebol. Você precisa ter um policiamento para ser o mais claro possível. É impressionante a quantidade de gente que vê algo que você faz na TV aberta. É imediato. Claro que passado um ano eu me sinto muito melhor, mais à vontade, mas, às vezes, eu me pego dando umas vaciladas", diz. Sua dificuldade inicial era com os padrões da nova emissora, como chamar de Arena do Palmeiras o Allianz Parque. Villani já escorregou nessa e foi cobrado.

"No Fox Sports, é permitido falar o nome do patrocinador do estádio e no Grupo Globo, não. Outro dia, soltei de novo, sem querer. Mas procuro levar da maneira mais leve, prestar atenção numa próxima vez". "A Globo é muito profissional, gentil. Se esse erro fosse em outro lugar, talvez eu tivesse a atenção chamada de uma outra maneira, outro tom. Lá, não. Eles chamam a atenção, eles tão vendo tudo. Dão toda a estrutura para minimizar os erros, cobram quando a gente erra, mas não é nada pro pessoal, não tem ranço, não tem punição", ressalta....

Perdeu ano na faculdade por trabalho com Casão Ainda na faculdade de jornalismo, Gustavo Villani teve a oportunidade de conviver com o atual comentarista da Globo Walter Casagrande, que tinha uma coluna no Estadão. O narrador, então estagiário, fazia o trabalho braçal de transcrever tudo o que Casão e os maiores nomes do futebol brasileiro falavam nas entrevistas e redigir o texto que seria publicado no jornal. "Ele era comentarista na Transamérica quando eu era estagiário. Quando pintou a chance de ele ser colunista, ele falou: 'Cara, eu estudei até a oitava série. Eu não tenho condição de escrever uma coluna. Você não quer me ajudar?'. Eu falei: 'Claro que eu quero'. Ele fazia um bate-papo com um grande jogador de futebol e eu ia anotando". "Eu estudava à noite e perdia aula feliz da vida. Inclusive perdi um ano na faculdade por faltas, porque quando eu não estava com ele fazendo coluna, às vezes, estava fazendo jogo de Libertadores, da Eliminatória da Copa."

Aprendeu a respeitar a "palhaçada da Fox" A habilidade de se adaptar aos estilos completamente diferentes dos canais pelos quais passou ajudou a construir o narrador que Gustavo Villani é hoje. Antes de chegar à Globo, ele passou pelos concorrentes Fox Sports e ESPN, cada um com seu papel na formação do jornalista. "O Fox Sports me deu as maiores oportunidades na minha carreira: fiz final de Copa do Mundo, final de Olimpíada, os melhores campeonatos internacionais, Inglês, Alemão, fiz final de Copa do Brasil, Sul-Americana, Libertadores. A ESPN me deu zelo, lá todo mundo é muito preparado, de cuidar, de estudar. É uma herança até hoje do José Trajano.

Ninguém entra no ar para fazer graça", analisa. "Fox Sports, além das oportunidades, tem uma veia, um DNA mais do entretenimento. Eu não gostava da palhaçada da Fox, mas aprendi a respeitar e foi o que me deu o entendimento de que o esporte vai mesmo nesse caminho, pro entretenimento. É sem volta, cada vez mais."..

No meio da briga entre PVC e Edmundo Depois da eliminação do São Paulo na Copa Sul-Americana de 2017, as coisas ficaram tensas entre os comentaristas do Fox Sports. Edmundo e PVC bateram boca ao vivo depois de surgir dúvida em uma declaração do então dirigente do São Paulo Vinícius Pinotti. Gustavo Villani estava no meio da confusão. "O Edmundo é um dos caras mais transparentes que já conheci. Se ele estiver com raiva, ele vai transbordar. Se ele estiver feliz, vai te beijar. Se estiver triste, vai chorar. Ele não tem filtro. Tem o peito completamente aberto. Ali foi um momento de raiva que ele transbordou. Eu falei pra ele: ''Cara, a gente pode resolver todas as questões do mundo, mas fora do ar. No ar, não. O público não tem nada a ver'. Fui atrás dele no camarim. O PVC também ficou muito chateado", conta. O "acerto de contas" aconteceu no mês seguinte. Quando os três dividiram a transmissão do Fox Sports novamente. "A gente se acertou depois de um jogo, Copa do Brasil, Botafogo x Atlético-MG. O nosso jogo era 19h30. Ia ter um outro às 21h30, do Palmeiras, na Copa do Brasil. Acabou o nosso jogo, e o Edmundo falou assim: 'Vamos todo mundo para casa tomar cerveja e comer pizza'. E eles ainda estavam estranhos um com o outro. Eu topei. O PVC falou: 'Não vou, não'. Eu falei: 'Você vai, sim. Nós vamos comer pizza, tomar cerveja e assistir o Palmeiras com o Cruzeiro'. Nós fomos na casa dele. Foi a primeira vez que zerou. Eles convivem bem hoje".... -

"Tragédia da Chape foi o dia mais triste da minha vida" O dia mais triste da carreira de Gustavo Villani foi, assim como para muitos jornalistas esportivos e pessoas ligadas ao futebol, 29 de novembro de 2016, quando o avião levando a delegação da Chapecoense para a Colômbia caiu e matou 71 pessoas. A equipe inteira do Fox Sports que faria a final da Copa Sul-Americana morreu. Villani não havia sido escalado para esse jogo, mas tinha muitos amigos naquele avião. Ele ficou sabendo do que aconteceu pelo pai, que ligou 26 vezes para ele de madrugada. Estava desesperado por não saber se o filho tinha embarcado no voo. Emocionado, o narrador conta como foi aquela manhã.

"O meu pai tentou me ligar, porque avisaram ele. Imediatamente ele achou que poderia ser eu. Ele me ligava e o meu telefone estava carregando na sala, de madrugada. Vibrava, vibrava. Ele não sabia como lidar, pensou em ligar para a minha mulher, a Mari. Às 7h, tinham 26 ligações dele não atendidas no meu telefone. Aí ligo pra ele: 'Pelo amor de Deus, eu estou com o coração na boca. Você não viu que caiu o avião?'. Ele que me deu a notícia. Tomei um banho e fui para a Fox. No caminho, muita gente já ligando. Começou um desespero. Foi o dia mais triste da minha vida." O Fox Sports perdeu seis profissionais na tragédia: o narrador Deva Pascovicci, os comentaristas Mário Sérgio e Paulo Julio Clement, o repórter Victorino Chermont, o repórter cinematográfico Rodrigo Santana Gonçalves e o coordenador de transmissões externas Lilacio Pereira Júnior.

"Sou chorão e assumo" Gustavo Villani é daqueles narradores que mostra o que está sentindo no ar, mesmo que isso signifique chorar. Ele não segura a emoção. É um chorão, como ele próprio admite. "Chorei no Seleção SporTV na tragédia do Ninho do Urubu. Aquilo foi muito triste, lógico. Eu acordei chorando, vendo aquilo pegar fogo e me preparando para ir pro Seleção. No programa, eu fui 'segura, segura, não é hora de chorar, não tem nada a ver, tem que ser frio'. Estava tudo indo razoavelmente bem. Eu muito emocionado e me contendo. Quando eles puseram as fotos dos meninos no telão, um bando de crianças, aí eu fiquei muito passado. Chorei. Sou chorão do meu filho me falar alguma coisa e chorar. Sou chorão e assumo", sorri Villani..











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