Luciane nasceu na Santa Casa, em 1970 e foi entregue pela mãe biológica a um casal que ouviu anúncio na Rádio sobre a oferta de adoção
A cuidadora Luciane Aparecida dos Santos, de 49 anos, residente no Jardim Marajó, na Zona Sul de Marília, decidiu tornar pública a história de sua vida, que começa com um drama logo após o seu nascimento na Santa Casa de Marília, em 1970.
Ela narra que sua mãe, que escondeu a gravidez até o nono mês de gestação, era uma empregada doméstica que ficou com medo da reação dos pais e não tinha condições de criá-la.
Irmãs de caridade (freiras) que atuavam na Santa Casa na época, ao ver que a mulher deixaria a crianças aos cuidados delas, anunciaram na Rádio Clube que tinha uma criança para adoção no hospital.
Um casal ouviu o anúncio e foi até lá. Então, receberam o bebê da mãos da própria mãe, que pediu dinheiro para a passagem, pois não tinha como ir embora.
Além da busca por informações sobre a mãe biológica, Luciane luta também na Justiça para conseguir informações sobre cadastro de seu nascimento na Santa Casa. Ao buscar ajuda e informações nas redes sociais, Luciane diz: "Quero minha vida revelada mesmo antes de eu nascer. Assim vou caminhar nessa vida mais forte e mais tranquila".
O RELATO
"Boa noite pessoas queridas. Venho nessa noite relatar um dilema pessoal meu. Como muitos já sabem moro na Cidade de MARILIA. E recentemente fiz uma campanha de fraldas para ajudar meu tio que estava muito necessitado dessa Ajuda. Mas hoje venho por outro motivo. Motivo muito pessoal. Vou divulgar em outros grupos também, esse apelo que irei fazer. Eu NASCI no dia 10 de junho de 1970. E assim que nasci, fui deixada por minha mãe biológica na Santa Casa de Marília. Na época a Santa Casa era administrada pelas irmãs de caridade e quando tiveram certeza que minha mãe iria me deixar sobre os cuidados delas, resolveram anunciar na rádio Clube de Marília, que havia uma criança do sexo feminino, recém nascida para adoção. Meus pais adotivos moravam num sítio, eram recém casados e não tinham filhos. Minha mãe estava grávida e não sabia. Após ouvirem a história na rádio, conversaram e resolveram ir até a Santa Casa para me ver e acabei sendo entregue para eles. Minha mãe biológica ainda estava na Santa Casa e ela mesma me entregou nos braços deles. Dizendo que não tinha condições de criar, pois era empregada doméstica na casa de um médico chamado Dr. Érico Cardeal, e que os padrões e nem a mãe dela sabia da gravidez, pois se a mãe soubesse mataria ela.
Ela tentou me abortar e não conseguiu, isso foi dito pelas irmãs. Escondeu a gravidez até o nono mês de gestação. Depois que me entregou a meus pais adotivos foi embora e sumiu. E ela ainda pediu dinheiro de passagem para meu pai adotivo pois não tinha dinheiro, parece que morava no bairro São Miguel ou Vila Nova.
Meus pais me criaram sempre com carinho porém não quiseram me contar que eu era adotiva. Mais eu sempre notei uma diferença grande entre eu e meus irmãos, tanto física como temperamental. Ainda mais que minha idade não coincidia com a idade de minha irmã, pois quando meus pais me acolheram, minha mãe já estava grávida sem saber. Desde muito jovem, na infância mesmo sempre tive o sentimento que eu não era filha biológica deles.
E sempre ouvi comentários baixos, cochichos de parentes quando olhavam para mim, e sempre soube que havia um segredo referente a minha pessoa. Isso me deixava angustiada. Foram muitos anos na certeza de minha condição de adotiva porém ninguém contava. Até que numa tarde, antes de ir para o colégio, já com 16 anos, tive uma discussão com minha irmã, e no aflorar da discussão afirmei para minha irmã que eu tinha certeza que eu não era filha biológica de nossos pais. Ela foi e contou para minha mãe que começou a chorar. É quando sai do quarto e fui a cozinha, minha mãe perguntou se eu queria saber de toda a história de meu nascimento. Na hora fiquei sem saber o que responder, mais acabei respondendo que não. Não queria saber. Pois depois de tantos anos de certeza, já não me interessava conhecer os fatos. Porem mesmo assim ela relatou tudo o que houve, como já contei a vocês, Ouvi tranquilamente e nunca tive problemas com isso. Meu pai ficou transtornado quando descobriu que eu sabia. Hoje ele já é falecido desde 2012. Mas de uns anos para cá venho pensando muito nessa senhora que é minha mãe biológica. E decidi que quero encontrar essa pessoa. Quero conhecer minhas origens, raízes. Conhecer o lado dela dessa história. Por isso estou relatando tudo isso a vcs, pois quero conhecer minha mãe biológica. Não sei o nome. Apenas que era empregada doméstica. Morava na casa dos padrões, tinha uns 17 anos na época de 1970. E era uma pessoa muito simples. Fui na Santa Casa tentar ver os registros de nascimento do dia, mês e ano que nasci, porém a Santa Casa não autorizou. Entrei na justiça para ter o direito de ver o registro para identificar minha mãe pelo nome, mas a Santa Casa apelou com os advogados e não consegui que o juiz conseguisse essa ordem. Portanto, venho aqui divulgar minha história pois quem sabe alguém conhece e sabe dessa minha história. Pois quero e pretendo encontrar minha mãe. Não tenho rancor. Nem raiva. Nenhum sentimento negativo em relação a ela. Quero apenas conhecê-la e ao mesmo tempo me conhecer. Tenho esse direito. São anos tentando, mas nada consegui. Além de fazer essa divulgação vou também nas rádios. jornais. Todo tipo de mídia. Porque para mim isso é muito importante. Existe um vazio por não conhecer minhas raízes e quero preencher as lacunas que estão faltando em minha vida. Se alguém souber de algum caso parecido entre em contato. 14 99884-0609. Pessoal isso é importante caso contrário não estaria me expondo dessa maneira. É a minha vida que conheço pela metade. E tenho todo o direito de conhecer esse outro lado de minha vida. Minha mãe adotiva está de acordo e me dando a maior força. É isso amigos. Quero minha vida revelada mesmo antes de eu nascer. Assim vou caminhar nessa vida mais forte e mais tranquila. Obrigada a todos!"