Foi realizada nesta quinta-feira (22), a audiência de instrução, debates e julgamento do adolescente W.E.P.S, de 15 anos, que matou a garota Lídia Hadassa de Lima, de 14 anos, a facadas, em Júlio Mesquita (a 34 quilômetros de Marília). O crime ocorreu no início da tarde de 23 de maio passado.
A audiência, no Fórum de Cafelândia, durou cerca de duas horas e foram ouvidas dez testemunhas, sendo 7 de acusação e 3 defesa. Após as oitivas, o juiz Octávio Santos Antunes, abriu prazo de 48 horas para manifestação do Ministério Público e após, prazo igual para manifestações da defesa. Decorridos esses prazos, o processo estará concluso para sentença.
Após a prisão do réu, acusado de feminicídio, no mesmo dia do crime, o magistrado determinou a internação dele por 45 dias na Fundação Casa, em Marília. Na audiência de apresentação do menor, o Ministério Público se manifestou pela manutenção da internação dele na Fundação Casa.
Após a audiência de ontem, o juiz poderá decidir por manter a internação do acusado na Fundação Casa, conceder a ele liberdade assistida (fica livre, mas sob supervisão do Estado), ou semiliberdade (não priva totalmente ele, ficando durante a semana em uma casa de internação e finais de semana com a família).
DEFESA
O advogado que atua na defesa do adolescente, dr. Ricardo Carrijo Nunes, aponta que o garoto agiu "sob forte emoção no calor de uma discussão" e sem ter premeditado o crime. Outros argumentos serão apresentados na audiência.
Caso condenado, o adolescente poderá permanecer na Fundação Casa por mais três anos (quando completa a maioridade penal) e então poderá ser solto.
Dr. Ricardo Carrijo Nunes atua na defesa do adolescente
"INCLINADO A COMPORTAMENTO DE EXTREMA VIOLÊNCIA"
Após a audiência de apresentação no Fórum de Cafelândia, o juiz Octavio Santos Antunes, decretou a internação do adolescente por até 45 na Fundação Casa em Marília. Ele segue recolhido na Unidade. O JORNAL DO POVO teve acesso à decisão.
"Crime hediondo que merece uma ação estatal mais rígida, a fim de coibir no adolescente o sentimento de impunidade e garantir que não venha a praticar atos semelhantes, eis que mostrou inclinado a comportamento de extrema violência", citou o juiz na decisão.
"Nesse contexto, sua internação provisória se justifica para assegurar a ordem pública, porquanto a gravidade concreta do ato infracional narrado na representação foge à normalidade do cotidiano na pequena e pacata Júlio Mesquita e a adoção de medidas brandas pode estimular atos semelhantes por outros adolescentes, em especial aqueles que se deixam influenciar pela difusão de notícias pelas redes sociais", acrescentou o magistrado.
Na decisão, mencionou ainda que "por fim, a medida tem por escopo garantir a própria segurança pessoal do adolescente que, no caso, encontra-se inserido em flagrante situação de risco pela comoção social causada na pequena cidade de Júlio Mesquita, tanto que foram necessárias algumas medidas preventivas para que o adolescente fosse apresentado à policia pelos familiares, em uma rodovia afastada da cidade, para prevenir eventual ação da população. Logo, a internação é medida excepcional e urgente".
O CRIME
W. atingiu a garota com ao menos cinco golpes de faca próximo à Escola Estadual José Carlos Monteiro, em Júlio Mesquita, onde ambos estudavam. Ele fugiu em seguida e foi capturado horas depois por policiais civis e militares.
A menina havia saído da escola e caminhava em direção à sua casa, quando teria começado o desentendimento com o adolescente, que insistia em querer namorar ela.
O advogado do adolescente afirmou que ele estava indo para a escola portando uma faca em função dos casos de violência registrados em escolas pelo país.
"A menina dizia que ele não teria coragem de se matar e em meio à discussão, o adolescente desferiu a facada, mas não viu que matou a garota e saiu correndo, foi embora", disse o advogado. A menina chegou ser socorrida e encaminhada à uma unidade de saúde na cidade, mas não resistiu e faleceu.
TENTATIVA DE SUICÍDIO
Após deixar o local do crime, o adolescente se escondeu. O pai dele o localizou e o levou para um local próximo ao trevo da BR-153 (entroncamento com a SP-333 - acesso a Marília).
O advogado, então, foi acionado pela família e ao chegar no local, as Polícias Militar e Civil já estavam lá. "O garoto estava desorientado e muito trêmulo. Eu havia combinado com a corporação que ele viria para a CPJ com o pai e mãe em meu carro. Mas, notamos que ele apresentava ferimentos no tórax e no pescoço e nos pulsos, relatando que havia tentado o suicídio usando a mesma faca do crime", explicou Ricardo Carrijo.
O garoto relatou ainda que, durante a fuga, passou em uma construção e ingeriu um líquido branco, sem saber do que se tratava.
Diante da situação, o adolescente foi socorrido por uma unidade de resgate da Concessionária de rodovias e encaminhado ao Hospital das Clínicas em Marília, onde foi atendido e ficou em observação, sob escolta policial, sem risco de morte.
O pai dele trabalha em uma indústria de alimentos em Marília e a mãe é professora em Júlio Mesquita.
Ele prestou depoimento no início da noite, após ter passado por atendimento psicológico e ambulatorial no Hospital das Clínicas, em Marília.
Pessoas conhecidas da família declaram que a mãe de Lídia não consentia o namoro da filha com o adolescente. Já a mãe do rapaz, que é professora, comentou que os adolescentes "tinham um namorico" há cerca de dois anos.
Lídia será sepultada sob forte comoção da comunidade, em Cafelândia
"NÃO SE RECORDA DE NADA"
O advogado disse ao JORNAL DO POVO, após a prisão do adolescente, que ele "não se recordava de nada" sobre o ocorrido.
"Ele está muito abalado emocionalmente e só ficou sabendo da morte da ex-namorada após o depoimento na CPJ. Até então ele achava que a movimentação era apenas pressão da polícia", disse o advogado.
DEPOIMENTO À POLÍCIA
Rápido. Assim foi o depoimento do adolescente na CPJ, em Marília. Ele foi ouvido pelo delegado plantonista Ricardo Coércio. "O garoto estava com o estado emocional abalado e não sabia que a vítima tinha falecido, até o início do depoimento. Estava desorientado psicologicamente e sem saber o que estava acontecendo", explicou o advogado Ricardo Carrijo Nunes. "Ele sempre foi um bom aluno, com boas notas", acrescentou.
Antes de ser conduzido sob escolta policial à CPJ, o adolescente passou atendimento ambulatorial e psicológico no Hospital das Clínicas de Marília. Após o crime, ele tentou suicídio com a faca usada no feminicídio. Sofreu ferimentos no tórax, pescoço e pulsos, mas sem risco de morte.
Momento em que o adolescente foi apreendido às margens da BR-153
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