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  • Por Adilson de Lucca

Após absolvição, empresário que atirou em PMs em Marília já cumpre internação em Franco da Rocha


Absolvido sumariamente de duas tentativas de homicídio contra policiais militares em Marília e com determinação de internação para tratamento psiquiátrico por três anos, o empresário Francis Vinícius Bez Angonesse, de 31 anos, foi transferido da ala de enfermaria da Penitenciária de Álvaro de Carvalho (28 quilômetros de Marília) para uma Ala Especial da Penitenciária Estadual de Franco da Rocha III (445 quilômetros de Marília).

Desde que teve alta do Hospital de Clínicas de Marília, em fevereiro deste ano, onde ficou internado sob escolta para se recuperar de ferimentos no abdômen e pés provocados por tiros disparados por policiais que atenderam a ocorrência, Francis estava recolhido na ala de enfermaria da Penitenciária de Álvaro de Carvalho.

O advogado de Francis, dr. Ricardo Carrijo Nunes, disse ao JORNAL DO POVO que seu cliente deverá passar pelo primeiro exame de avaliação psiquiátrica dentro de dois meses, já que o prazo de um ano para isto deverá ocorrer a partir da data do fato (30 de setembro de 2021).

Em dezembro do ano passado, Francis foi submetido a exame no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) de Presidente Prudente, cujo laudo apontou incidente de insanidade mental de Francis, com Transtorno Afetivo Bipolar com episódio de mania sintomas psicóticos.

ABSOLVIÇÃO

No dia 30 de maio, o juiz da 3ª Vara Criminal do Fórum de Marília, Fabiano da Silva Moreno, proferiu sentença e absolveu sumariamente Francis das duas tentativas de homicídio contra os policiais.

O magistrado acatou pedido do advogado Ricardo Carrijo Nunes, pela inimputabilidade do réu em função de laudo pericial que apontou distúrbios psicóticos do réu.

O defensor pleiteou também tratamento ambulatorial para o acusado (com prisão domiciliar) mas o juiz atacou manifestação do Ministério Público e determinou internação compulsória de Francis Angonesse pelo prazo de três anos em estabelecimento adequado.

Ao final desse prazo, o réu deverá ser submetido a novo exame para detectar cessação de periculosidade dele. O mesmo exame deverá ser repetido todos os anos ou a qualquer prazo, por determinação da Vara das Execuções Criminais.

Advogado Ricardo Carrijo Nunes, que atuou na defesa do empresário Francis Angonesse


RÉU DIZ QUE MISTUROU MEDICAMENTOS CONTROLADOS COM CACHAÇA

Em depoimento judicial, Francis afirmou que no dia do crime teve um "apagão" e que jamais imaginou que a mistura de bebidas e medicamentos o deixaria nocivo, ao ponto de atirar em policiais. Declarou que estava depressivo por problemas de dívidas do restaurante da família, que ele administrava.

A mãe dele declarou que o filho vinha tendo problemas com um vigilante da rua onde moram (na área central da cidade), o qual passava buzinando e irritava o réu.

Os primeiros tiros disparados pelo empresário no jardim de invernoi da casa, antes da chegada da polícia, teriam sido justamente "um recado" ao vigilante.

Durante as movimentações de policiais na ocorrência, Francis andava de um lado para outro dentro de casa com armas e dizia que ele (o vigilante) e "sua turma estavam lá fora".

Francis segue na Penitenciária de Álvaro de Carvalho; no destaque, armas apreendidas na casa dele

ARSENAL NA CASA

A Perícia Técnica da Polícia Civil foi acionada para o local, onde esteve o delegado plantonista Pedro Luiz Vieira Machado, e apreendeu, além da pistola marca STI, 9mm, outra pistola Glock, além de uma carabina calibre 12.

Foram apreendidos ainda na casa três carregadores, cápsulas de projéteis de 9mm e 380. três carregadores, dezenas de cartuchos, entre eles 19 intactos de calibres 11 e 12 e uma balança de precisão usada para abastecer cartuchos, diversos frascos de pólvora, além de cartelas de espoletas e artefato explosivo.

"HOJE EU MATO OU MORRO"

Citam os autos que Francis Vinícius no dia 30 de setembro de 2021, por volta das 4h, na Rua Monteiro Lobato, Jardim Dirceu, área central da cidade, visando assegurar a impunidade de outro crime, tentou matar os policiais militares João Fernando Silva e Marcos Antônio da Silva, causando-lhes os ferimentos descritos nos laudos dos exames de corpo de delito, não consumando seu intento por circunstâncias alheias a sua vontade.

Consta ainda, que, no mesmo local, momentos antes dos fatos sobreditos, o réu disparou armas de fogo em local habitado e em direção à via pública. Segundo se apurou, o indigitado, atirador esportivo registrado, possuía em sua residência uma pistola calibre 9mm e outra calibre .380, além de uma espingarda calibre 12, bem como várias munições e petrechos para a recarga delas.

No dia dos fatos, irritado por uma discussão anterior que mantivera com o vigilante que atua na rua de sua residência por questões de somenos e após ingerir voluntariamente bebida alcoólica, Francis passou a efetuar disparos com sua espingarda calibre 12 e uma de suas pistolas para o alto, do interior de sua residência (inicialmente no jardim de inverno e posteriormente no quintal), enquanto gritava “hoje eu mato ou eu morro”.

Na sequência, acionados para atender a ocorrência de disparo, Policiais Militares compareceram no local e acionaram a campainha da residência. O PM João Fernando dizia “guarda essa arma, sai para gente conversar, estamos aqui para te ajudar”. Neste momento, Francis dirigiu-se até a garagem armado, onde proferiu a seguinte frase: “se eu for sair daqui é para matar ou para morrer” e novamente efetuou disparos com a espingarda calibre 12 em direção à via pública. Apesar dos esforços dos policiais e sem se render, visando assegurar a impunidade do delito anterior (disparo ilegal de arma de fogo), o increpado imediatamente abriu o portão da residência, empunhando uma pistola 9mm equipada com mira laser e, dizendo que mataria a todos, passou a efetuar disparos contra as vítimas que, mesmo abrigadas atrás de postes existentes na via pública, acabaram alvejadas: o Sgt João Fernando por 4 vezes (coxa esquerda, pé esquerdo, braço esquerdo e costas1) e o Cb Marcos por 2 vezes (coxa e perna esquerdas), o que fez com que outros policiais militares que também atendiam a ocorrência revidassem os disparos e atingissem o indigitado, inabilitando-o, possibilitando sua contenção. Os homicídios não se consumaram por circunstâncias alheias à vontade do autor, principalmente pela rápida atuação dos policiais que atendiam a ocorrência e alvejaram o atirador, inabilitando-o, bem como pelo pronto e eficaz socorro médico prestado às vítimas. Os crimes, de resto, foram cometidos durante a vigência de estado de calamidade pública (Covid) condição que, à evidência, sobrecarrega ainda mais os serviços públicos, assoberbados que estão por conta da calamidade.

A prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Indeferido o pedido de revogação da prisão preventiva formulado pela douta Defesa, bem como foi determinada a instauração do incidente de insanidade mental do acusado. Portaria de instauração de incidente de insanidade mental. Determinada a expedição de ofício ao IMESC, solicitando data para realização da perícia. Em data de 14/10/2021 foi impetrado pedido de Habeas Corpus em benefício do réu, tendo sido a liminar indeferida em 17/10/2021. Encerrada a instrução o Ministério Público, apresentou alegações finais escritas, a absolvição imprópria com imposição de medida de segurança consistente na internação, eis que comprovada a materialidade e autoria, em que pese a constatada inimputabilidade do réu. Requereu a absolvição sumária do acusado, mantendo a custódia cautelar, até a obtenção da vaga no regime de internação. A douta Defesa apresentou alegações finais e requereu a absolvição sumária do acusado, em razão da inimputabilidade, com determinação de medida de segurança de tratamento ambulatorial por período de 05 (cinco) anos, como recomendado pelo especialista.

O JUIZ DECIDIU

"A materialidade restou comprovada por intermédio auto de prisão em flagrante. A vítima pm Marcos Antonio da Silva foi ouvido pela polícia e afirmou que estava com seu parceiro CB PM Barcelon em patrulhamento momento em que foram informados que um indivíduo estaria efetuando disparos no interior de uma residência. Foram até o local dos fatos e, um quarteirão antes, já puderam ouvir os disparos vindos de dentro da residência, mesmo com as viaturas das outras equipes já no local. No local, viram o sargento João Fernando e o policial militar Fernandes tentando manter contato com algum morador da residência. Presenciou o CB Fernandes tentando manter diálogo com o atirador dizendo "guarda essa arma, sai pra gente conversar, estamos aqui para te ajudar", mas o atirador disse "se eu for sair daqui é para matar ou morrer", efetuando mais três disparos para cima com uma arma longa. Ato contínuo, o atirador ficou em silêncio e entrou na residência.

O sargento João Fernando saiu do abrigo e tentou manter contato com a mãe do atirador. A vítima se deslocou até o sargento para lhe dar cobertura. A mãe do atirador disse que ia tentar acalmar seu filho para que os policiais pudessem conversar com ele. Neste momento, a vítima viu pelo vidro da janela da residência que o atirador estava retornando para fora empunhando duas armas de fogo. A vítima gritou para o sargento "recua, recua, ele está vindo" e logo já se ouviu o portão abrir. A vítima e o sargento se abrigaram atrás do poste. Assim que o portão abriu o atirador passou a disparar. A vítima efetuou dois disparos, momento em que o atirador continuou a atirar em direção ao poste. A vítima sentiu que foi atingido na perna e sua arma encavalou, sendo necessário realizar manobra. Foi quando olhou para o lado e viu o sargento João Fernando estava caído ao solo.

A vítima foi novamente atingida na fíbula. Na sequência, a vítima já viu o atirador caído e o CB Souza retirando a arma de perto dele. A vítima perdeu muito sangue e só recobrou a consciência já no hospital. Disse que a iniciativa de disparos foi do acusado. Informa que em nenhum momento ele nem os outros policiais invadiram a residência, e, ainda, tentaram fazer com que o acusado se rendesse, mas ele já estava com a intenção de atirar nos policiais....

A vítima João Fernando Silva afirmou à polícia que estava com seu parceiro CB PM Souza em patrulhamento de rotina quando por volta das 03:30h foram acionados para atendimento de ocorrência de disparo de arma de fogo na avenida Sampaio Vidal, 400. Pediu apoio. Ao chegar no local um morador de um dos prédios saiu dizendo que havia ouvido muitos tiros vindos da rua de trás.

Nas proximidades da rua Monteiro Lobato ouviu uma pessoa gritando falas desconexas, "vou matar". Conseguiu identificar a residência de onde os gritos vinham e tocou o interfone algumas vezes. Ouviu gritos de dentro da residência "eu vou matar esse filho da puta". Conseguiu ver um indivíduo do sexo masculino portando uma arma de fogo calibre 12. Comunicou seus parceiros e se deslocou até o poste buscando abrigo. Novamente tocou o interfone e uma senhora abriu a porta. Calmamente ela disse "ele tá nervoso porque ele tomou remédio e bebeu, vou falar com ele". Perguntou se ele tinha arma, e a senhora respondeu que sim, mas era legalizada.

Nesse momento, o indivíduo saiu de dentro da casa empunhando uma arma de fogo tipo pistola e a senhora voltou para dentro da residência. A vítima se afastou e se abrigou atrás do poste. O indivíduo abriu o portão e já saiu atirando. A vítima ficou próximo ao Cabo Marcos. Caiu ao solo e em seguida levou um tiro no pé esquerdo e continuou a troca de tiros. Avistou alguém caindo ao solo, só depois percebeu que havia levado um tiro nas nádegas. O Cabo Marcos também foi alvejado. Os projéteis ainda estão alojados em seu corpo e no momento não serão retirados...

Chegou em um prédio de apartamento onde o porteiro indicou ter ouvido o barulho dos disparos de arma de fogo na rua de trás. Dirigiu-se à rua de trás e buscando localizar o exato endereço onde os fatos estavam ocorrendo acabou por ouvir "hoje eu mato ou eu morro", vindo de uma casa na esquina. Desta feita, o endereço foi identificado. O Sargento Fernando acionou a campainha da casa.

O depoente viu que uma cortina de uma janela voltada para a rua foi aberta e pôde ver alguém com uma arma longa nas mãos dentro da casa. Tal pessoa gritava muito, que queria matar, dizendo "vem aqui macaco, vou te matar". Pouco depois ele abriu a porta e saiu com a arma longa na mão, escondendo-se atrás de um muro. Da garagem onde há um vão aberto no alto, ele fez três disparos com essa arma longa, que então conseguiu identificar como sendo uma espingarda calibre 12. Após estes três disparos, ele retornou para dentro do imóvel.

O depoente se abrigou, mantendo bom visual da porta da sala, do outro lado da rua. O autor continuava a gritar dentro da casa, isso por mais alguns minutos. Pouco tempo depois, viu que o autor saiu da casa, desta vez portando uma arma menor, uma pistola, avisando os demais policiais. Mais uma vez ele voltou para dentro do imóvel e permaneceu em silêncio. O Sargento Fernando voltou a acionar a campainha, conseguiu falar com a mãe do autor, a qual disse que o filho estava descontrolado e que ele não iria soltar as armas. Em seguida, ouviu um barulho do portão eletrônico se abrindo, alertando os demais policiais de que a porta da sala se abriu e também o portão.

O autor saiu da casa em direção ao portão, armado, se posicionando a abaixar-se para diminuir o seu tamanho e passou a atirar na direção dos demais policiais. O depoente ao ver essa ação, acabou por efetuar disparos contra o autor. O risco à vida e integridade física dos policiais era muito grande, extremo, não havendo outra possibilidade senão a reagir à ação do autor. Nessa ação, o autor conseguiu atingir 02 policiais, o Sargento João Fernando e o Cabo Marcos. O autor foi alvejado e contido. Autor e vítimas foram socorridos ao HC. O Sargento João Fernando, assim como o autor, foram socorridos por uma unidade do resgate, enquanto o Cabo Marcos foi socorrido por uma das viaturas do local, pois, estava perdendo bastante sangue...

O réu abriu o portão social da casa e saiu atirando em direção ao cabo Marcos e ao sargento João Fernando. Disse que o acusado não havia o visto e disparou contra o acusado. No momento em que Francis caiu, parou de atirar, foi e pegou a arma que estava com o acusado, e tinha dois carregadores no bolso do acusado...

DEPOIMENTO DA MÃE DO RÉU

A testemunha Neli Rita Vez Angonesse deu declarações na delegacia. Afirmou que é genitora do autuado, Francis. Na residência, local dos fatos, mora a Declarante e seu filho. O filho da declarante é atirador, mantendo registro como atirador esportivo e com autorização para manter armas de fogo dentro de casa.

Ele possui 02 (duas) pistolas e uma espingarda calibre 12, sendo que todas são legalizadas. Ele também faz recargas de munição e mantém todos os acessórios relacionados em casa. Ele faz uso das armas somente em clubes de tiro e mantém a documentação para transporte das armas em ordem. Há algumas semanas, seu filho acabou se desentendendo com um vigilante que trabalha na rua, de motocicleta, e passa defronte às residências buzinando. Seu filho não gosta que o vigilante acione a buzina, pois a declarante chega tarde do trabalho e precisa descansar, mas esta situação estava sendo conduzida com tranquilidade, sem qualquer desdobramento. Há cerca de uma semana, seu filho pediu um alimento via aplicativo IFood e quando o entregador chegou, acabou também se desentendendo com ele e o mencionado vigilante se aproximou e se prontificou a chamar a polícia para ajudar o entregador, entendendo ele que seu filho estaria agindo de forma inadequada.

Toda essa situação acabou irritando seu filho, pois, o vigilante o estaria provocando. Na data de ontem, o filho da declarante foi provocado pelo vigilante, o qual passava insistentemente defronte sua residência e buzinando, tirando o sono dele.

Em razão disso, seu filho foi até o estabelecimento (restaurante) que são proprietários, que fica muito próximo da residência, buscou uma garrafa de vodka e outra de saquê e acabou bebendo. O filho da declarante faz uso de medicamento controlado, vez que faz tratamento psiquiátrico, sendo diagnosticado com depressão profunda (causada após a morte do pai), síndrome de pânico, ansiedade, enfim, transtornos que o levaram a ser tratado com tais medicamentos.

Em determinado momento, seu filho, irritado com o vigilante que buzinava passando defronte à residência, e já sob efeito da mistura de bebida alcoólica com os medicamentos, começou a apresentar sinais de que estava descontrolado emocionalmente. Pegou uma das armas de fogo, a espingarda calibre 12, e deu alguns tiros. Isso ocorreu em um jardim de inverno. A declarante se dirigiu a ele tentando contê-lo, mas ele se mostrava muito alterado, "fora de si".

Depois ele foi até o fundo do quintal e fez outros disparos para o alto, desta vez com a espingarda e uma das pistolas. Seu filho dizia que estava atirando para o alto para "espantar" o dito vigilante. A declarante não conseguia mais controlá-lo. Pouco tempo depois, tocou a campainha e após a declarante ouvir que era a polícia chamando, foi atender a porta, dizendo que seu filho estava muito alterado, incontrolável, para tomar muito cuidado.

Ao retornar para dentro de casa, viu seu filho dizendo que quem estava lá fora era o vigilante e "sua turma", entendendo ele que estaria em risco com a presença deste vigilante e outras pessoas, quando na verdade se tratavam de policiais.

A declarante tentava dizer isso ao seu filho, tentando acalmá-lo, enfim, tentando gerenciar aquela crise até que seu filho retomasse a consciência e tudo pudesse ser resolvido de forma mais tranquila.

Entretanto, não conseguiu conter seu filho e ele acabou saindo da casa, indo na direção da frente onde estava a polícia. Seu filho acabou atirando nos policiais, os quais também atiraram, resultando em dois policiais alvejados, assim com seu filho. Em audiência respondeu ao Ministério Público que, naquela noite, ela subiu para o seu serviço que trabalhava no restaurante e, quando chegou em casa, encontrou o filho bem, na sala, mexendo no computador. Francis disse a ela que não iria se deitar naquela hora. Acordou com os disparos para cima que Francis havia dado do jardim de inverno da casa, e viu a bebida em cima da mesa. O filho tomava remédio controlado, estava transtornado e ficava andando pela casa. Disse que nunca tinha visto o filho naquela situação e, quando os policiais chegaram, ela não teve controle sobre Francis, que começou andar e querer sair para fora da casa. Relata que conseguiu distrair o filho e foi atender os policiais, disse a eles que o filho estava transtornado e era para eles se recuarem e se esconderem, pois seu filho havia ingerido medicamento e bebida e estava fora de si. Disse que tentou evitar o acontecido, pois o filho estava em surto e nunca havia tido esse comportamento. Afirma que o filho, após a morte do pai, passou a tomar vários medicamentos controlados. Disse que ele frequentava o clube e era muito rígido guardando as suas armas em um cofre que ficava trancado no quarto. Disse que o problema foi o filho ter ingerido vodka com os medicamentos. O clube era o momento de distração do filho, e Francis possuía três armas e ele próprio fazia as recargas. Declara que o filho sempre teve as armas e as munições de forma legalizada, disse que ele desceu no estabelecimento e pegou um litro de vodka e um saquê, tendo ingerido toda a vodka e deixado um pouco do saquê. Relata que o seu filho teve um desentendimento com o vigilante, pois havia pedido um lanche pelo aplicativo IFood e o vigilante não queria subir para entregar o lanche, e o vigilante passando viu o entregador no meio da rua e disse que chamaria a polícia, após isso o vigilante passava em frente à sua casa e buzinava em tom de provocação, mas foi algo passageiro, e não sabe o que aconteceu anteriormente na data dos fatos, pois só acordou com os disparos. Declara, que pediu aos policiais para recuarem, pois o acusado estava transtornado, e, atualmente, nas visitas, pergunta para a declarante o que ele fez na data dos fatos. Disse que o filho também disparou na garagem, e os policiais pediram para que Francis saísse da casa com as mãos para cima. Disse que, quando o portão abriu, foi seu filho quem abriu o portão e começou o confronto, tendo a declarante saído atrás dele. Declara que foi Francis quem deu o primeiro tiro para cima quando saiu para fora da casa. Respondeu à douta Defesa que o filho faz há muito tempo tratamento médico. Antes mesmo de o pai falecer ele já fazia terapia e iniciou os medicamentos com 17 anos, sendo diagnosticado com depressão, tendo o genitor do acusado falecido em 2013. Declara que os medicamentos do filho foram trocados diversas vezes, sendo para tratar depressão e pelo fato de Francis passar dias e dias somente deitado. Disse que o filho sempre conseguiu trabalhar e se medicar, era, inclusive, o responsável pela administração do restaurante. Declara que o filho nunca demostrou comportamento agressivo com ela e, se não tomasse o medicamento, ficava somente deitado. Tinha conhecimento de que não podia ingerir bebida alcoólica, e, no dia, soube da bebida buscada pelo filho no estabelecimento, pois, quando Francis foi buscar a bebida, a declarante já estava dormindo, tendo visto após acordar que o filho havia tomado a garrafa de vodka. Informou que durante todo o período que o acusado fez tratamento nunca havia tomado bebida alcoólica. Afirma à defesa que o filho, semanalmente, fazia acompanhamento psiquiátrico. Disse que o acusado sempre teve namoradas, amigos bons e uma vida normal, declara que a função do filho no restaurante era o setor financeiro completo. Declara que mostrou os medicamentos que os filhos tomava aos policiais e as munições apresentou aos policiais também. Disse que, durante o surto, o filho falava palavras em inglês e coisas sem sentido. Afirma que o filho não se recorda dos fatos ocorrido.

Declarou ao juiz que o interesse do filho por armas começou por volta de 2013/2014, inclusive o filho ia ao clube, atirava, e voltava contente, e desde criança Francis dizia que queria ir para o exército. Afirma que, anteriormente, o filho nunca havia feito disparos dentro de casa e era muito cauteloso com suas armas, tendo atirado para cima no dia dos fatos e deixado um marca na viga da garagem, e que, mesmo após morte do pai, o acusado não mudou suas atividades, e assumiu a administração do estabelecimento, nunca tendo dado problema para o restaurante.

Afirmou que se mantinham com o restaurante, e com o seu benefício pela morte do marido. Informa que a casa comprada foi negociada por Francis e financiada pelo acusado e pela declarante no ano de 2014, afirma que quando apareceu o imóvel em que mora, próximo ao Peixinho, foi Francis quem teve a iniciativa de comprar o imóvel. Disse que jogos agressivos não eram um vício do filho, e, rotineiramente, iam e voltavam do restaurante. Durante as crises de depressão, Francis apenas ficava isolado e muito triste, não demostrando um comportamento agressivo. Disse que tem uma irmã com bipolaridade e o seu cunhado (irmão do seu marido) se enforcou com problemas psicológicos.

RÉU DIZ QUE TEVE UM "APAGÃO"

O réu Francis foi interrogado e informou, que se encontra internado no Hospital de Clínicas de Marília, afirma que no dia dos fatos fez uso de Clonazepam e ingestão de bebidas alcoólica, o uso da dose correta seria 2mg, porém ingeriu 6mg do medicamento, apenas se recorda que o "guardinha" da rua lhe chamou no portão, e depois teve um "apagão" se recordando somente do momento em que se "entregou", afirma, que não se recorda de ter feito disparos de arma de fogo, e não se recorda de ter atirado contra os policiais militares. Declara que possui uma arma de fogo calibre 12, a qual é usada para caça, e duas pistolas sendo uma Glock 380 e uma "DVC" tactic 9mm e as munições ficavam guardadas no cofre, disse, que no momento dos fatos a sua genitora estava no interior de sua casa dormindo, e que foi atingido por um disparo de arma de fogo na barriga, e um disparo em cada pé. Em seu interrogatório judicial, declarou que pela manhã tomou os seus medicamentos controlados e não estava se sentindo muito bem. Foi ao restaurante, trabalhou, e, ao anoitecer, teve outro ataque de pânico onde começou a pensar nas dívidas do restaurante da sua família e começou a sentir uma ansiedade e um medo descontrolado.

Nisso tomou ao total seis de seus medicamentos controlados para fazer com que aquela ansiedade e aquela falta de ar cessassem, saiu de sua casa e foi até o seu restaurante a pé, pegou a vodka e um saquê e voltou para casa. Relata que ingeriu as bebidas na mesa de usa casa e depois só se recorda de ter acordado no Hospital das Clínicas na UTI. Afirma que fazia acompanhamento psicológico duas vezes por semana e uma vez na semana tinha acompanhamento psiquiátrico. Aos 17 foi diagnosticado com TDAH, posteriormente foi diagnosticado com depressão severa, e no Hospital de Clínicas foi constatado que o declarante possuía severa carência de lítio no sangue, tendo sido alterada sua medicação não sabendo precisar a dosagem por estar preso. Relata que anterior aos fatos nunca havia tomado medicamento contendo lítio, somente outras medicações controladas. Afirma que tinha conhecimento de que não poderia ingerir álcool com medicação, mas não sabia a proporção do surto que teria se caso misturasse bebida e álcool. Afirma não recordar da movimentação em sua casa e o último fato que se recorda é que de ter retornado para sua casa e começado a beber a "vodka", e declara que consciente jamais discriminaria um negro. Disse ter 31 anos e não terminou a faculdade de Administração, pois seu pai veio a falecer e precisou administrar o restaurante da sua família. Disse que é atirador esportivo, e nunca efetuou disparos em sua residência. Informa que gosta da prática esportiva de tiros, e nunca ouviu vozes apenas muita perturbação mental. Respondeu ao Ministério Público que já era tarde quando buscou bebidas no estabelecimento, não se recorda do tanto de bebida que ingeriu, voltando a ter consciência no Hospital de Clínicas com um médico lhe contando o que havia acontecido. Informa que treinava tiros desde os 24 anos de idade, mas somente com 25 anos consegui seus equipamentos de treino. Assume que as três armas apreendidas eram suas, e no hospital o policial Fernando lhe narrou os fatos e disse ao acusados que durante o seu momento de surtou ele usou a arma "Glock" calibre 380, e em relação a mira laser acredita que ela estava ali servindo apenas como lanterna e não é uma arma de alta precisão nem super letal.

Declarou que não se recorda dos disparos, e nunca fez uso de drogas nem conhecia nenhum dos policiais. Informa que as munições eram carregadas por si próprio e todas as notas de compra legalizada estavam em sua casa. Afirma que jamais imaginou que a mistura de bebidas e medicamentos o deixaria nocivo, ao ponto de atirar em policiais. Respondeu ao MM. Juiz que associou a resolução da sua crise ao uso da vodka, por já ter cursado dois anos a faculdade de nutrição então possui um conhecimento mínimo na área de farmácia, e acreditou que o álcool sanaria o efeito depressor.

Disse que nunca foi preso, e antes do fato nunca foi internado, apenas fez tratamento para controlar as crises. Relata que não se recorda da sua mãe no interior da sua casa no dia dos fatos. Afirmou não se lembrar de ter mencionado "eu mato esse macaco", em relação a um dos PMs atingidos e disse que em sã consciência jamais faria declarações racistas.

Relatou que os seus armamentos devem ter sidos aprendidos, mas não sabe ao certo se realmente houve essa apreensão. Informa que o policial Fernando foi ao hospital quando estava internado na ala psiquiátrica, aproximadamente cinco dias após o ocorrido, afirmou que visitava site de tiros apenas oficiais para ver datas dos campeonatos. Acrescentou que já foi examinado pelos profissionais do IMESC.

Trecho da sentença emitida dia 30 de maio passado




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