- Por Adilson de Lucca
"CARTEIRADA" DA VEREADORA: No país do jeitinho, adivinhe quem acabou levando a pior?

Lembra daquele escandaloso caso da vereadora professora Daniela Alves (PL) que deu uma "carteirada" na então comandante da PM em Marília, Márcia Cristal, para não ter seu veículo apreendido durante a madrugada?
Ao saber da abordagem do carro (dirigido por uma filha), em agosto de 2020, a vereadora ligou para a comandante tentando evitar que o sargento PM Alan Fabrício Ferreira efetivasse a autuação e apreensão.
O policial gravou a ligação, onde a superiora o pressiona dizendo que ele estava "tumultuando" e deveria apenas orientar e não apreender o carro da vereadora.
“Porque isso daí é falta de bom senso, tá? Ela é vereadora. É, é, a condição, você pode muito bem estar fazendo e orientando, tá? E aí segunda-feira, ela pegaria o documento e não precisa apreender o veículo”, diz a comandante.
Ela também ameaçou retirar o policial do setor de trânsito, o que de fato aconteceu. “Se for desse jeito é o que eu to falando, você não vai estar mais segunda-feira no trânsito (...) porque essa aqui é uma ordem minha, você vai responder também”.
“Comandante, a senhora está falando isso, não estou descumprindo a ordem da senhora. A hora que a senhora me ligou eu estava no telefone com ela e o veículo já estava em cima do guincho. O veículo foi removido, mas segunda-feira eu converso com a senhora ”, responde o policial, na ligação.
“Porque você pura e simplesmente está fazendo algo que era desnecessário, infelizmente a gente tem esse tipo de contato dessa forma, você não ouviu as orientações que foram dadas, tá? Quem trabalha no trânsito tem que ter jogo de cintura e bom senso. Olha o que você tá causando, porque politicamente ela é vereadora. Não teve nem uma conversa, o que você está achando que você é?”, repreendeu a comandante.
O policial deu oportunidade do marido da vereadora, que foi até o local, pagar o licenciamento por aplicativo, mas ele disse que não tinha condições. Então, o sargento ignorou a manobra da "carteirada" e efetivou a autuação e a apreensão do carro, que foi recolhido ao Pátio da Ciretran.

SOBROU PRA QUEM?
Pois é! No resumo da ópera, quem acabou levando a pior nesse caso foi o sargento que de forma profissional e austera cumpriu com o seu dever.
Quase três anos depois, o policial acaba de sofrer uma punição de cinco dias de detenção, imposta pelo Conselho Disciplinar do Batalhão da Polícia Militar, em Marília.
De quebra, o advogado Marcos Rogério Manteiga, que atuou na defesa do sargento, também foi condenado no ano passado pela Justiça em Marília a pagar R$ 10 mil de indenização à ex-comandante Cristal. A decisão foi da juíza Thaís Feguri Krizanowski Farinelli, da Vara do Juizado Especial Cível do Fórum de Marília.
A decisão, publicada no Diário Oficial do Estado, afirma que a punição é cabida por Alan não ter acatado a ordem de serviço da comandante na época.
A vereadora professora Daniela, pivô do escândalo, teve uma CPI para investigar o caso arquivada pela Câmara e se reelegeu. A comandante da PM foi promovida e aposentada. Isto é Brasil, o país do jeitinho!

DESTAQUE EM CURSO
O sargento Alan Fabrício Ferreira, semanas após o entrevero da "carteirada", conquistou o primeiro lugar no Curso de Especialização Profissional - Policiamento de Trânsito Urbano -, realizado durante duas semanas pelo Comando de Policiamento de Trânsito da Policia Militar de São Paulo. Alan foi aplaudido de pé no anúncio da brilhante conquista.

Vereadores João do Bar e Coraíni arquivaram a "CPI da Carteirada" na Câmara

