O atual comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que assumiu o cargo nomeado pelo presidente Lula, em janeiro deste ano, fez uma reunião com subordinados e desferiu um monte de expressões que viraram polêmica. Isso porque Paiva pediu que os presentes na reunião não gravassem a fala dele. Mas foi desobedecido. Clique aqui e ouça o áudio
A reunião ocorreu três dias antes do então comandante Júlio César de Arruda ser demitido pelo presidente Lula, que nomeou Tomás para o cargo.
Nos áudios, o militar faz uma série de comentários sobre a conjuntura política do país e das forças armadas nos últimos anos, além de apontar interferência política no Exército. Chama os presos nos atos de 8 de janeiro de "burros".
"Hoje, estamos vivendo um terremoto politico no país", disse. Acrescentou que o tal terremoto político estava tentando "matar a nossa hierarquia" e criticou duramente críticas aos militares postadas em redes sociais por internautas que defendiam um golpe militar após as eleições do ano passado e "não se conformavam" com o fato do Exército não ter apoiado e se engajado nessa pretensão.
A análise do comandante Paiva incluiu recortes de publicações nas redes sociais e análise da opinião pública sobre as forças armadas e seus impactos.
FOTO FAKE EM MARÍLIA
Aos 47 minutos do polêmico áudio, o general cita uma foto fake que circulou nas redes sociais em Marília, com uma fotomontagem da fachada do Tiro de Guerra local com uma coroa de flores e a expressão "covardes".
Paiva mostrou a postagem aos presentes na reunião e comentou: "E isso aqui é fake. Pra vocês verem as armas que são usadas, isso aqui é fake! Tiro de Guerra de Marília, o cara botou uma foto, de sacanagem, uma coroa de flores e escreve bobagens. O cara faz uma montagem e escreve".
Ele considerou a postagem "agressão virtual. Pra fazer o que? Pra destruir reputação. Pra fazer o que? Pra desagregar, pra minar a hierarquia e disciplina".
A referida postagem foi feita em janeiro em um perfil do Facebook de um homem que se apresenta como major Elitusalem Freitas e o perfil seria de um policial militar que já foi vereador no Rio de Janeiro. Consta ainda uma propaganda de campanha política para deputado federal. Ele se intitula como o “major que o 01 escolheu”, com uma foto do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaristas permaneceram acampados em frente o Tiro de Guerra em Marília desde o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, em outubro passado, até o dia 10 de janeiro deste ano. Eles defendiam intervenção militar no país após a vitória de Lula.
GENERAL DE COMPORTA COMO DIRIGENTE POLÍTICO
Analistas políticos consideraram que a reunião parece ser uma cúpula partidária para o desenvolvimento de estratégias político-eleitorais no curto e médio prazo.
E, claro, tudo sob o pretexto de combater a politização (o termo correto seria partidarização) das forças armadas e repetindo que o exército não é partidário, embora os áudios da reunião mostrem algo diferente. Eles até discutem economia e os motivos pelos quais um golpe militar no Brasil seria inviável.
Em determinado momento do áudio, o general afirma que um golpe militar no Brasil causaria conflitos nas ruas, isolamento internacional do país, desvalorização do real e queda na Bolsa de Valor. Não é apropriado que um general se reúna com seus auxiliares para discutir a viabilidade de um golpe militar ou a reação das redes sociais e da opinião pública.
Em outro trecho, afirma ser favorável ao voto impresso (PEC derrubada pelo Congresso) embora afirme não haver indícios de fraude no pleito do ano passado. Depois afirmou fazer parte de uma “bolha conservadora de direita”.
No mínimo, a reunião é confusa, pois Tomás Paiva se comportou como um verdadeiro dirigente partidário enquanto repetia várias vezes que repudia a partidarização das forças armadas.
Num país sério com uma imprensa comprometida com a democracia, essa reunião seria tratada como um escândalo e não recebida com aplausos.
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