A empresa de depilação "Laserfast", que estava instalada em um shopping de Marília, baixou as portas e deu golpe em dezenas de clientes que pagaram antecipadamente pelos serviços ou adiantaram parcelas (e ficaram com os "bolsos lisos"), agora, pressiona funcionários lesados a "não criar barracos" com denúncias da situação na imprensa e redes sociais. Ações nesse sentido foram levantadas em cidades da região onde a empresa também atuava com franquias.
Ex-funcionários reivindicam o pagamento de direitos trabalhistas. A Laser Fast está impedida pela Justiça de vender pacotes.
“COLOQUE A EMPRESA EM ORAÇÃO"
Essa foi a resposta que Letícia Beatriz de Jesus Lopes, de 24 anos, recebeu depois de cobrar o pagamento de parcelas atrasadas referentes ao acerto trabalhista. Letícia trabalhou por apenas um mês em uma das unidades da Laser Fast e relatou os impactos negativos da experiência. Desde 8 de abril, ela busca, por meio da Justiça, solucionar o problema.
“Fizeram uma reunião e falaram que iriam pagar nosso acerto parcelado. Pagaram apenas três parcelas de R$ 250 cada. Não consegui pagar água, luz e comida, até cortaram minha energia. Quando mandei uma mensagem cobrando, fui bloqueada”, conta.
Fabiana Costa, de 33 anos, supervisora de vendas, trabalhou na empresa por cinco anos. Ela foi demitida em março sem receber salário, FGTS ou o acerto trabalhista. Uma dívida que, conforme Fabiana, chega a quase R$ 25 mil. Apesar de ter conseguido se recolocar no mercado de trabalho, ainda espera receber os direitos empregatícios.
“Todas as vezes que mandam alguém embora é assim: sem pagar nada. Tenho duas filhas pequenas. As contas atrasaram, tudo enrolou. Me bloquearam, não respondem mais”, afirma.
Em uma das respostas da diretoria da empresa a Fabiana, a Laser Fast alega que os ex-funcionários "estão denegrindo a imagem da marca". Na sequência, reitera: "ir atrás de mídia não irá resolver a situação da empresa”. Ainda conforme a mensagem, a consequência desses atos recairá sobre os funcionários.
Já a executiva comercial Mirella Andrade Marconi, de 28 anos, relata que foi contratada como pessoa jurídica (PJ) no fim de 2023, quando a empresa enfrentava instabilidade financeira. “Era o golpe perfeito. Me iludiram, não pagaram nem os dias trabalhados. Estou com o nome sujo, sem resposta, só promessas vazias”, diz.
A biomédica Maria Eduarda Barbosa, de 25 anos, passa por uma situação semelhante. Ela foi demitida em novembro de 2024, todavia diz nunca ter recebido o valor rescisório.
“Me devem acerto, horas extras e FGTS, que nunca foi depositado. Estou em processo judicial. Atrasou até o salário, e isso complicou toda minha vida financeira”, conta.
ROLOS EM MARÍLIA
Uma avalanche de boletins de ocorrência foi registrada na Central de Polícia Judiciária (CPJ). Mesma rotina em outras cidades da região onde clientes foram vítimas da "LaserFest".
A empresa vendia pacotes de sessões de depilação, mas encerrava suas atividades antes que os contratos fossem concluídos. Após o fechamento, os clientes não conseguiam contato para solicitar reembolso. Uma advogada de Marília perdeu quase R$ 3 mil.
A bancária Jéssica Ribeiro Andrade foi uma das vítimas. "Tentei mandar mensagem, ligar no telefone que eles disponibilizaram, que era da clínica, mas até hoje não me responderam, não me ligaram de volta, nada", relatou.
Jéssica registrou um boletim de ocorrência e acionou o Procon de Marília, onde aguarda retorno desde fevereiro.
O Procon suspendeu as vendas de pacotes de depilação da Laser Fast depois de uma série de reclamações de consumidores e abriu cerca de 15 processos contra a Laserfest, mas a notificação da empresa tem sido dificultada devido ao abandono dos endereços físicos.,
“Chama atenção o descaso da empresa, que é uma rede de lojas. Identificamos que, em alguns casos, pacotes foram vendidos até mesmo um dia após o fechamento das unidades”, afirmou a diretora do Procon de Marília, Valquíria Galo.
“As lojas fecharam no mesmo dia em diversos municípios, não só em Marília. E até o dia anterior, eles ainda estavam vendendo pacotes de depilação a laser”, explicou.
Agora, o Procon atua em uma segunda fase do processo para tenta garantir o ressarcimento dos consumidores por meio das instituições bancárias, já que os endereços da empresa foram desocupados.
“Com o boletim de ocorrência em mãos, conseguimos acionar os bancos para pedir o cancelamento e o estorno dos parcelamentos realizados pelos clientes”, orientou o Procon.
Kommentare