Uma interventora nomeada pela Prefeitura de Marília para atuar no Cacam (Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente de Marília), a partir do mês passado, revelou "caos na entidade", incluindo desavenças durante surto de virose em crianças. A interventora relatou que "a equipe técnica do CACAM (coordenadora, assistente social e enfermeira) deixa muito a desejar, não tem comprometimento e falta capacidade técnica para atuar em uma instituição de acolhimento de crianças".
Um quadro nebuloso que já resultou no afastamento da diretora da instituição e abertura de sindicância pela Corregedoria-Geral do Município. Portaria nesse sentido foi publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (18).
A interventora, Mônica de Vasconcellos, nomeada após conflitos da Prefeitura com a diretoria da entidade, relatou série de "trombadas" com a diretora e servidores da Prefeitura que atuam no Cacam.
Apontou, por exemplo, salas fechadas onde ela não tem acesso e "falta de atenção" às suas solicitações, como levantamento das medicações compradas para as crianças, além de relatórios financeiros.
A portaria de Sindicância publicada hoje revela ainda que no sábado (22 de junho) a interventora, preocupada com o acolhimento de 5 irmãos na 6ª-feira à noite, por volta de 15h, foi até à instituição.
VIROSE
Chegando lá foi informada pelas monitoras que cinco bebês estavam com virose. Haviam cerca de seis pessoas visitando o CACAM. Levaram lanche e estavam brincando com as crianças na quadra. Ficou na instituição por cerca de 2h, fez algumas orientações, que entendeu pertinentes, às monitoras, deixando seu contato.
No domingo, inquieta com a situação encontrada no sábado ligou na entidade por volta de 10h para saber do estado das crianças. A monitora que atendeu disse que tinha mais crianças com virose que precisavam ser medicadas, que não conseguiram falar com a equipe técnica (Sr.ªs A., L. e C.) e que não estavam dando conta da situação.
Ligou para a Sr.ª A., Sr. H. e Secretário C., mas não atenderam e não conseguiu falar com ninguém. Tendo a Interventora se deslocado até o local, chegando lá, todas as funcionárias estavam nervosas e sem saber o que fazer, pois havia
cinco crianças que precisavam ir para o Pronto Atendimento de imediato. Ligou para a Enfermeira, comunicou o que estava acontecendo e solicitou sua presença na entidade sendo respondido por ela que “não estava em casa e que não sabia se poderia ir ao local atender as crianças”.
Ligou novamente para a Coordenadora que, felizmente, dessa vez, atendeu a ligação. Explicou que precisava de uma monitora urgente no CACAM, pois não tinha condições de duas monitoras (N. e B.) saírem com cinco bebês para irem ao Pronto atendimento e ficar apenas uma monitora (A.) para cuidar do restante das crianças Sr.ª A. chamou a monitora R. do noturno que acabara de cumprir seu plantão (19h às 7h) e que passou o dia no CACAM, ficando até às 19h.
O marido da Senhora R. pegou a perua e levou as monitoras junto com as crianças ao médico. À tarde levaram mais crianças. A monitora N. ficou com as crianças doentes até às 21h30 no Pronto Atendimento. A enfermeira C. apareceu na instituição e ficou lá por cerca de 1h.
Cita a portaria que o Sr. H. retornou a ligação dizendo que estava sem celular, mas que ligara assim que vira a ligação perdida. Comentado pela Interventora sobre a dificuldade de falar com a equipe técnica fora do expediente e, mais uma vez, de forma ríspida, ele disse que “as funcionárias trabalham de 2ª a 6ª-feira, até ás 17h, que têm seus compromissos e sua vida fora da entidade”. Tendo a interventora argumentado que quem trabalha em acolhimento tem que ter disponibilidade ao menos para atender ligações fora do expediente.
FALTA DE CAPACIDADE
Considerando que segundo relatos da Interventora a equipe técnica do CACAM (coordenadora, assistente social e enfermeira) deixa muito a desejar, não tem comprometimento e falta capacidade técnica para atuar em uma instituição de acolhimento de crianças menores de 12 anos que foram enviadas para o local justamente por estarem afastadas do convívio familiar e já terem passado por inúmeras situações pelas quais nenhuma criança deveria passar.
Dia 24/06/2024 – 2ª-feira: a Interventora chegou à instituição por volta de 07h45min e orientou a monitora S. a ajudar no manejo com as crianças, vez que a entidade se encontra com 38 (trinta e oito) infantes, sendo 15 (quinze) bebês.
Apenas 05 (cinco) acolhidos foram para a escola, os demais ficaram no CACAM tendo em vista o surto de virose do final de semana. A monitora me disse que não poderia ficar porque tinha que abrir o brechó, sendo dito a ela que nesse dia não seria possível abrir o comércio tendo em vista o caos instalado na unidade e a necessidade de cuidados das crianças. Na sequência, ficou sabendo que haveria reuniões de rede, para tratar dos seguintes casos:
- 24/06 – às 9h para tratar dos casos do V.H. e R.; - 24/06 – às 13h para tratar dos casos da H.; - 25/06 – às 13h para tratar dos casos do L. e M.C.; - 26/06 – às 9h para tratar dos casos da M.E., J. e Y. Perguntado à Assistente Social L. sobre as reuniões ela respondeu que não sabia que precisava lhe informar, pois tudo que eu precisasse deveria me reportar à Sr.ª A.
Esclarecido que, como interventora, deve ser informada sobre tudo que acontece na instituição e, em especial, se for a respeito dos acolhidos. A Interventora ao falar com a Sr.ª A. sobre os pedidos que lhe fizera anteriormente. Não se passaram 10 minutos e o Sr. H. chegou à entidade. Levo-a para a sala de reunião e fechou a porta; mais uma vez repetiu a mesma conversa de sempre: que o CACAM tem 32 anos, que é uma entidade respeitada, que está à frente dela há 30 anos. Voltamos às questões relativas ao final de semana a Interventora reclamou dos procedimentos da enfermeira.
Ele a chamou para sala, e ela se colocou na posição de vítima dizendo que tudo que foi pedido a ela foi feito; que estava ocupada no domingo. Até que se retirou da sala. Aproveitando a oportunidade a Interventora perguntou como a Sr.ª A. fora escolhido para a Coordenação do CACAM e qual a formação (escolaridade) dela; ele, exaltado, respondeu que ela é uma ótima funcionária, que trabalha há mais de 10 anos no CACAM, muito experiente e que a escolha foi por mérito.
A chamou para a sala e ela disse que está na entidade há 8 anos; que antes de ser Coordenadora era monitora da entidade. Apresentado pela Interventora o livro “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”, página 69, onde consta que o “Coordenador de serviço de acolhimento deve ter formação mínima de nível superior e experiência em função congênere”. Visivelmente nervoso, Sr. H. (...) em tom de ironia, perguntou se as monitoras também teriam que ter ensino superior, sendo respondido que, de acordo com o mesmo livro e com a norma vigente, a exigência é apenas ensino médio.
INTIMIDAÇÃO
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