Simone está sendo velado em caixão lacrado, com foto sobre a tampa
Comoção de familiares e amigos. Esse foi o clima no velório de Simone Vieira da Costa, de 52 anos, na tarde desta quarta-feira (28). O corpo será sepultado nesta quinta-feira (29), às 10h30, no Cemitério da Saudade.
Ela foi morta por volta das 20h desta terça-feira (27), com diversos golpes de enxada desferidos por Everton Pereira de Godoy, de 37 anos, que estava em processo de recuperação na Comunidade Terapêutica Estância Peniel (que em hebraico significa a face de Deus), localizada às margens da SP-333 (próximo à Serra do Country Clube).
Quando a Polícia chegou no local, o homem estava ao lado do corpo, com a enxada, falava coisas desconexas e aparentava estar em surto psicótico.
Ele foi conduzido à CPJ e autuado em flagrante por homicídio qualificado, motivo torpe sem possibilidade de defesa da vítima.
Os golpes atingiram principalmente o rosto e o pescoço da vítima, que teve morte instantânea. Simone estava próximo à uma horta no momento do ataque. O corpo foi velado em caixão lacrado.
Simone era presidente e monitora da entidade que fundou em 2015 e mantinha as atividades há cerca de dois anos em uma chácara alugada, onde ocorreu o crime.
Ela morava no local, que abrigava atualmente quatro internos dependentes químicos e de álcool. Os três outros abrigados eram mais velhos que Everton.
"ACREDITAVA NAS PESSOAS"
A voluntária Mônica Casagrande Neto, de 46 anos, que ajudava Simone há cerca de dois meses na entidade, disse ao JORNAL DO POVO que a amiga vinha sendo alertada sobre o comportamento psicótico de Everton.
"Ele falava o tempo sozinho, tinha umas conversas desencontradas", relatou. O alerta foi confirmado por duas irmãs de Simone que estavam no velório. "A gente alertava, mas a Simone dizia que confiava em Jesus e que tinha fé que o Everton iria se recuperar. Ela se dedicava inteiramente à obra social e acreditava nas pessoas", disse a irmã, Sueli.
Mônica afirmou que há cerca de quinze dias houve mudança no regimento interno da Comunidade Terapêutica e dos cerca de quinze internos, apenas quatro permaneceram na chácara.
"Não havia muita disciplina em termos de entrada e saída, por exemplo e isso foi regulamentado", lembrou.
Sobre Everton, acrescentou que ele xingava, falava palavrões, mas nunca chegou a agredir fisicamente a Simone. Mas, ela estava exposta, vulnerável. Esse interno foi o primeiro que ela acolheu em uma clínica que ela tinha em outro endereço, então ela confiava que ele acalmaria. Mas, pelo que o médico havia dito, ele tinha sinais de esquizofrenia. Tinham restrições e regras a serem cumpridas no local e isso não agrada a todos. É um trabalho difícil, que requer disposição, e isso ela tinha".
A voluntária disse que Simone morava no local e no começo da noite da noite de ontem ligou para ela para saber se estava tudo bem. "Ela disse que sim, que estava tudo em paz. Com mais serviço por causa das mudanças, mas estava tudo bem. Ainda é difícil acreditar que aconteceu isso, porque a Simone era uma pessoa extremamente amável, dedicada e atenciosa. Ela lutava pelo bem-estar dos recuperandos e compartilhava do sofrimento deles, dando todo apoio possível, principalmente espiritual.
Mônica acredita que a entidade não continuará com as atividades. "Sem a presença e a dedicação da Simone, será muito difícil prosseguir com esse trabalho", explicou. Simone deixou uma filha, Rafaela, de 22 anos.
Ela disse que o sonho da mãe era acolher todas as pessoas em situação de rua com a intenção de abrigar, alimentar a ajudar na cura.
O trabalho com os moradores em situação de rua começou em 2015, com a doação de marmitas. Mas, a vontade de fazer mais por aqueles necessitados de ajuda e acolhimento “gritou mais alto”.
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