- Da redaççao com informações do G1
Padre investigado por atropelamento diz à polícia que ladrão se jogou contra o carro

O vídeo do interrogatório do padre Gustavo Trindade dos Santos, acusado de atropelar Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, que furtou uma igreja em Santa Cruz do Rio Pardo, mostra que ele negou enfaticamente que tivesse deixado o local do atropelamento sem prestar socorro ao homem. No interrogatório o religioso, investigado por tentativa de homicídio, dá a sua versão sobre o caso registrado no último dia 7 de maio. No interrogatório, que durou quase uma hora e 20 minutos, o padre diz que “não fugiu” do local e que o homem atropelado, segundo sua versão, é que teria se jogado sobre o capô do carro. Para justificar a sua afirmação de que não fugiu do local do acidente sem prestar socorro, o padre Gustavo Trindade disse ao delegado Valdir Oliveira, que comanda as investigações, que tomou a atitude de dar a marcha à ré e sair do local em nome da segurança dele e da pessoa que o acompanhava no carro. O padre também rejeitou a recusa de socorro a Ângelo afirmando que, ao perceber a presença de pessoas na rua no local do acidente, teria pedido a elas que chamassem a polícia. O religioso foi interrogado após não ter comparecido à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez.
À época, o local para depoimento foi definido após o padre informar que mudou seu endereço para o convento Santo Alberto Magno, no bairro de Perdizes, na capital. Quatro dias depois de faltar ao depoimento, o padre Gustavo participou de uma missa no Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Santa Cruz do Rio Pardo. Mesmo assim, o inquérito policial foi concluído, mas o MP solicitou a oitiva do padre para poder avaliar melhor o caso. A Promotoria também pediu um exame de corpo de delito para periciar a gravidade dos ferimentos no atropelado. Segundo o delegado Valdir de Oliveira, o inquérito foi novamente fechado, agora com o depoimento do padre, e enviado na última sexta-feira (10) para o MP, que ainda não se manifestou sobre o caso. Durante o interrogatório, o padre confirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou Ângelo pulando o muro e fugindo do local. No prosseguimento do interrogatório, o padre afirmou que ele e a pessoa que o acompanhava no carro no momento do caso pediram para Ângelo parar. No entanto, as imagens de segurança que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante toda a perseguição, que foi de 1,4 km. Em relação ao atropelamento, o padre afirmou que encontrou um caminho para fechar Ângelo, sendo que, no momento em que ele entrou na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja teria se jogado no carro. Portanto, o que estaria sendo tratado como um atropelamento não teria sido. Quando questionado sobre por que não prestou socorro, o padre alegou que temeu a possibilidade de Ângelo estar armado e que, por isso, evitou o risco. Desta forma, ele retirou o carro e fugiu do local. O frei chegou a alegar que pediu ajuda à polícia. Após o atropelamento, o padre contou que foi até o convento onde morava, guardou o carro, que pertence à Diocese de Ourinhos e viajou para Ribeirão Preto, onde iria aproveitar o Dia das Mães e o próprio aniversário, que seria no dia posterior.
Investigação Durante as investigações, a polícia descobriu que Gustavo, apesar de habilitado, deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020. A defesa do padre mostrou um documento da União Europeia que o autorizava a dirigir. O aceite, do tempo em que ele morava na Espanha, no entanto, não é válido em território nacional. Por esse delito, Gustavo deve responder apenas administrativamente pela CNH junto ao Detran. O inquérito policial indiciou o padre por tentativa de homicídio qualificado. Nas duas vezes em que a polícia fez pedidos de prisão, o Ministério Público se posicionou contra e os dois pedidos de prisão preventiva contra ele foram negados pela Justiça. Ângelo, que, segundo o boletim de ocorrência, teria furtado três moletons e uma camiseta, segue com graves sequelas do atropelamento. Ele ficou internado, a princípio, na Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo e, depois, foi transferido para a Santa Casa de Ourinhos De acordo com a sua defesa, ele se encontra em casa, sem conseguir se comunicar e andar, sendo necessário o uso de fraldas. Por conta da sua condição, a defesa pretende entrar com uma ação frente à igreja pedindo ajuda, inclusive com a retirada da queixa de furto. Ângelo chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade. O furto Segundo o boletim de ocorrência, o homem atropelado furtou a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta. Câmeras de segurança flagraram Ângelo furtando a casa paroquial momentos antes de ser atingido por um carro da Diocese de Ourinhos. Após mexer nas gavetas e circular pela área, ele se dirige a um cesto, no qual se encontram algumas roupas. O suspeito remexe em várias peças, quando decide levar algumas e foge do local. Em outras imagens de câmeras de segurança, é possível ver a fuga de Ângelo por um outro ângulo. Ele corre pela rua, quando o carro da casa paroquial, sob direção do padre Gustavo, vira a esquina, persegue Ângelo, entra na calçada e o atinge. Após prensar o suspeito do furto contra a vitrine de uma loja de tintas, o padre retorna à via e sai em disparada do local. Nas imagens, é possível ver parte da lateral dianteira do carro danificada.

