top of page
Buscar
  • Por Adilson de Lucca

Polícia indicia médico por negligência e homicídio em morte de gestante após parto na Gota de Leite


O delegado chefe da Central de Polícia Judiciária de Marilia (CPJ), dr. José Carlos Costa, concluiu o inquérito que apurou a morte de uma gestante por hemorragia horas após o parto, na Maternidade Gota de Leite, no dia 26 de março de 2020. A criança sobreviveu.

A vítima, Amanda Caroline Ramos de Lima, de 27 anos, faleceu por volta das 6h, após ter sido transferida para o Hospital das Clínicas de Marília. A causa da morte, conforme laudos necroscópicos, foi hemorragia pós-parto.

No inquérito policial que apurou negligência médica, foi ouvido o marido da vítima, Maicon dos Santos Jovino. No registro do Boletim de Ocorrência, após a morte da esposa, ele declarou que ela estava grávida de quarenta semanas e fazia seu pré-natal no posto de saúde do Distrito de Rosália.

Afirmou que na data hora e local dos fatos, na Maternidade Gota de Leite, foi realizado o parto e que ele acredita que "por negligência médica dos profissionais, sua esposa apresentou um quadro hemorrágico, sendo que a criança nasceu em condições normais e sobreviveu, já a vítima precisou ser encaminhada para o Hospital das Clínicas de Marília, vindo a entrar em óbito no dia seguinte, 26 de março, ás 6h da manhã". Maicon juntou no B.O a declaração de óbito da esposa e pediu investigações.

VÍTIMA TINHA BOA SAÚDE

No inquérito policial, Maicon relatou que eles eram casados há quinze anos e tinham três filhos menores (de 12, 9 e 5 anos de idade). Minha esposa sempre teve boa saúde, e teve as quatros gestações de forma tranqüila. Na última gestação, onde veio a nascer T., ela frequentou o posto de Saúde de Rosália, tendo feito todo o pré-natal sem nenhuma intercorrência", lembrou. Ele apresentou a carteirinha de gestante da esposa.

No dia 25 de março de 2020, por volta das das 16h/17h, Amanda se queixou de estar sentido uma leve dor no pé barriga, e como já estava próximo do dia do neném nascer, acharam por bem vir até a Gota de Leite para verificar. Vieram até a Gota de Leite, onde foi feita a internação dela. Como a mulher ia ter parto normal, disse para o marido que não precisava ficar aguardando, e assim que o neném nascesse pediria para avisá-lo.

Após retornar para casa, pois precisava cuidar das outras três crianças do casal, Maicon e sua cunhada ficaram tentanto ligar para a esposa dele, porém, a mesma não atendia. Após várias tentativas, a cunhada acabou ligando na recepção da Gota de Leite, por volta das 20h, e a criança ainda não havia nascido.

As 23h, ligou novamente na Maternidade, tendo sido informada de que o neném já havia nascido, e que tanto a mãe quanto a criança estavam bem. Por volta da meia noite, Maicon recebeu uma ligação da Gota de Leite, informando que sua esposa havia tido complicações durante o parto e se era possível comparecer no local.

Então ele se dirigiu até a Gota, e ao chegar se identificou e percebeu uma correria no corredor e uma enfermeira perguntando ao médico qual medicação ele havia dado à paciente, se referindo a esposa do declarante, tendo o médico informado que não a havia medicado.

TRANSFERÊNCIA E CIRURGIA DE URGÊNCIA

Então o médico se dirigiu até o marido da paciente e perguntou se ela tinha algum problema psiquiátrico, pois a mesma passou a gritar ofendendo as enfermeiras e tentando agredí-las e que por conta disso tiveram que amarrá-la na cama. O médico informou que devido a paciente estar muito alterada o coração dela havia parado de bater e que haviam chamado o SAMU, que foi chegar na Maternidade por volta de uma hora da manhã.

Enquanto era feita a transferência de Amanda, o marido dela ficou na recepção aguardando a documentação para internação, e na ficha dela foi colocado de que a mesma não havia feito o pré-natal. Já no Pronto Socorro do Hospital das Clinicas, Maicon foi chamado em uma sala reservada e a médica obstetra lhe perguntou se a esposa dele havia feito o pré-natal, tendo o declarante informado que sim.

Na ocasião a médica informou que ela estava com hemorragia, e que já havia tido uma parada cardíaca na Gota de Leite, e que iriam precisar operá-la na vagina para tentar parar com o sangramento.

Passando um tempo a médica retornou e disse que Amanda havia perdido muito sangue e que não estava conseguindo localizar a origem do sangramento e que seria necessário abrir "a barriga" para tentar conter o sangramento, e que o estado dela era muito grave e que ela poderia ter outra parada cardíaca. Como o marido não tinha opção, autorizou a fazer a cirurgia.

"PODE PROCESSAR, É MAIS UM NAS COSTAS", DISSE O MÉDICO

Declarou que sua esposa foi levada para o centro cirúrgico, vindo a ter uma parada cardíaca, sendo ressuscitada, porém, não resistiu. Logo em seguida a equipe médica comunicou ele do ocorrido.

No dia seguinte, uma funcionária da rede municipal de Saúde, comentou com o irmão de Maicon que uma das enfermeiras da Gota de Leite era conhecida dela e a informou de que houve negligência no atendimento da paciente. Na ocasião soube também que a enfermeira precisou pedir afastamento, pois estava em estado de choque pelo que presenciou.

A enfermeira informou que houve troca de turno no plantão e a médica que estava de saída informou ao médico que estava chegando de que havia uma paciente em estado de parto. Após a médica sair o médico informou a enfermeira que iria dormir e assim o fez.

Amanda começou a gritar, e então a enfermeira foi verificar o que estava acontecendo, ocasião em que constatou que a vagina dela estava preta, provavelmente já com hemorragia, e solicitou ao médico que fosse tomar alguma providencia.

O médico então disse que era para deixá-la gritando mais o bebê nasceu com um dedo da mão roxo e com algumas machas nas costas. Relatou ainda que após o parto a paciente ficou sozinha sem nenhuma assistência.

Já no quarto, Amanda passou a gritar, pedindo socorro e dizendo que ia morrer, tendo a enfermeira novamente ido pedir ao médico para verificá-la, tendo ele colocado o dedo no rosto da paciente por diversas vezes, e dito que ela era escandalosa e usuária de drogas, e disse olhando para um casal que estava no mesmo quarto: "pode processar, é mais um nas costas. Isso não dá em nada, pois ela é drogada". E então a paciente foi amarrada e veio a ter a primeira parada cardíaca.

Maicon fez constar no depoimento que quando chegou na Gota de Leite, por volta da meia noite, viu a médica que tinha feito o primeiro atendimento a sua esposa chegar junto com o esposo dela, e ela saiu com o bebê no colo embrulhado na cobertinha que ele havia comprado e saíram no carro particular deles. Disse que na hora ele estava muito nervoso e não se deu conta do que estava acontecendo.

No outro dia, quando foi visitar o bebê, ele se deparou com a médica e o marido dela e o abordou a fim de questioná-lo, porém o mesmo desconversou e não disse mais nada sobre o ocorrido.

Esclareceu por fim o nome do médico que fez o parto, que e é japonês e tem uma clinica na Avenida Rio Branco. O nome do médico não foi divulgado pela Polícia Civil. Maicon se comprometeu a fornecer o nome da enfermeira que alertou da negligência, bem como do casal que estava no mesmo quarto que sua esposa.

Delegado chefe da CPJ, dr. José Carlos Costa, conduziu o inquérito policial

TRABALHO ININTERRUPTO

O inquérito conduzido pelo delegado José Carlos Costa seguiu ininterrupto por dois anos, com várias diligências e coleta de depoimentos de todos os médicos, enfermeiras e outros profissionais que participaram e auxiliaram no parto na Maternidade Gota de Leite e no atendimento de emergência no Hospital das Clínicas, onde foram tentados todos os recursos para salvar a vida da paciente, que chegou lá em estado muito grave.

Em um trabalho eficiente e dedicado, o delegado chefe da CPJ aprofundou, durante o inquérito, investigações e apurações sobre hemorragia pós-parto (HPP), inclusive sobre recomendações nesse sentido da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

O delegado solicitou ainda laudo complementar com vários quesitos ao médico legista do Instituto Médico Legal (IML), com respostas conclusivas e bem esclarecedoras.

O médico foi indiciado por homicídio culposo. Caso condenado, poderá pegar uma pena de 1 a 3 anos de prisão. O inquérito foi enviado ao Ministério Público da 2ª Vara Criminal do Fórum de Marília.







2.247 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page