top of page
Buscar
  • Adilson de Lucca

Associação dos Alfaiates de Marília completa 80 anos e projeta tombamento histórico do prédio. Profissão está em extinção

Atualizado: 13 de mar.


Associação dos Alfaiates de Marília, a mais antiga entidade de classe em plena atividade em Marília, completará 80 anos de fundação no próximo dia 19.

Funcionando na Rua 9 de Julho (entre as Ruas São Luiz e XV de Novembro), centro da cidade, o Clube dos Alfaiates, como é conhecido, mantém os tradicionais bailes das sextas-feiras na ativa.

Apenas um alfaiate trabalha no local. José Ferreira Neto, de 77 anos. Ele iniciou na profissão aos 13 anos de idade. Morador do Bairro Aniz Badra, na zona norte de Marília, ele contou ao JORNAL DO POVO que o dono da alfaiataria Nossa Senhora da Aparecida pediu para seu pai comprar uma cesta de Natal. "Meu pai disse: eu compro se você der uma vaga para o meu filho na alfaiataria. O comerciante aceitou e foi aí que comecei na profissão e nunca mais parei".

Ferreirinha como é conhecido, reconhece que a profissão de alfaiate está em extinção. "Praticamente não existe mais alfaiatarias. Eram muitas em Marília, mas foram fechando".

O principal motivo, segundo ele, é o custo para os clientes. "Um terno feito por um alfaiate profissional sob medida e encomenda, custa cerca de R$ 1.500. A pessoa vai numa loja do comércio e compra pelo menos dois ternos novos por esse valor", explica.

Ferreirinha trabalha numa sala na Associação dos Alfaiates fazendo principalmente consertos de ternos e outras roupas.

ALFAIATE, JOGADOR DE FUTEBOL E PROFESSOR

O atual presidente da entidade, que também se chama José Ferreira ("as vezes é uma confusão danada!", brinca), de 79 anos, o Da Bahia, começou na profissão aos 16 anos como aprendiz de alfaiate e se especializou como "calceiro" (confecção de calças). Também atuou como jogador profissional de futebol no antigo São Bento e jogou em clubes da várzea.

"Tive que trabalhar muito como calceiro para pagar o hotel onde eu morava e meus estudos", conta ele, que se formou em três faculdades (Educação Artística, Educação Física e Pedagogia). Esta última para atuar como professor da rede estadual de Ensino, onde se aposentou.

Ele também reconhece que a profissão de alfaiate está em extinção. "As indústrias de confecções absorveram praticamente todo o mercado, principalmente as indústrias de calças jeans, que não existiam até a década de 70. Os tecidos usados eram brim, tergal e linho", recorda.

PROFISSIONAL DE GRANDE IMPORTÂNCIA

Com o avanço da tecnologia e a Revolução da Indústria chinesa, o alfaiate se tornou “démodé”, ou seja, fora de moda.

Poucos são aqueles que ainda insistem em manter a tradição nos dias de hoje, e como diz no popular, entre trancos e barrancos, o alfaiate insiste em sobreviver com a sua velha máquina de costura, em meio aos cortes de brim, linho, casimira, etc.

Muitos se esquecem de que o alfaiate é um profissional de grande importância para o movimento da moda, principalmente para quem gosta de peças exclusivas e com caimento perfeito.

Num passado não muito distante, os homens tinham um cuidado todo especial com a aparência e admiravam um terno perfeito, feito sob medida e com excelência no acabamento. Antigamente, um homem bem vestido era questão de status, requinte e elegância.

Mas com o avanço tecnológico, as indústrias, principalmente as chinesas,  começaram a fabricaram roupas em grande quantidade, variedades e preços mais acessíveis. Só que pecam na qualidade, no caimento perfeito, no acabamento e principalmente para quem gosta de peças exclusivas.


José Ferreira, presidente da Associação dos Alfaiates de Marília

TOMBAMENTO DO PRÉDIO E DOAÇÃO AO PODER PÚBLICO

A Associação dos Alfaiates tem hoje apenas 40 sócios de carteirinha, que pagam mensalidade de R$ 10 e têm entrada franca nos bailes que acontecem todas as sextas-feiras, a partir das 21h, no salão no prédio da entidade.

"Nossa intenção é preparar num futuro o tombamento patrimonial desse prédio e doá-lo para o Poder Público, que poderá transformá-lo em algum órgão ligado à cultura, por exemplo", explica José Ferreira. O imóvel tem cerca de 50 X 15 metros, com piso superior.

Está sendo preparada uma solenidade especial para troca da placa comemorativa dos 70 anos da entidade. A cada dez anos é realizado este evento. "Agora, sairá a placa comemorativa dos 70 anos e será colocada a placa alusiva aos 80 anos da Associação", explica o presidente.

TRADICIONAIS BAILES

Os bailes de final de semana sempre foram a principal atração da Associação dos Alfaiates. Palco histórico da vida boemia e de encontros que terminaram em muitos casamentos.

"Têm casais que frequentam aqui há trinta anos. Sentam nas cadeiras cativas de madeira", conta a cantora Marina Vieira, servidora pública estadual aposentada, que anima os eventos no local com seus parceiros de música.

"O ambiente é bem familiar e tem um público diferenciado", explica Marina. Ela também atua na diretoria da entidade. O salão social comporta 350 pessoas.

Marina, José Ferreira e Ferreirinha na entrada do salão social



Escola de Corte e Costura "Santo Antonio"; diretora: Fumiko Yamaguti; professora: Satsuki Yamaguti; Marília, 18 Dezembro 1948. Foto tirada na Associação dos Alfaiates de Marília (AAM); as formandas e seus respectivos padrinhos, com o prefeito Miguel Argolo Ferrão sentado entre a diretora e professora

Foto tirada na década de 50 em frente a Associação dos Alfaiates:

terno (colete, calça e paletó), traje cotidiano da época





1.017 visualizações1 comentário
bottom of page