EXCLUSIVO: confeiteiro baleado dentro do Tauste lembra momentos de pânico, cita pesadelos e conta que rixa começou há vinte anos, no mesmo local
- J. POVO- MARÍLIA

- há 14 horas
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O confeiteiro e panificador e instrutor profissional de artes marciais (muay thai), Jhonny da Silva Sarmento, 36 anos, atingido por três tiros dentro do Supermercado Tauste Norte, em Marília, na noite de 15 de novembro passado (um sábado), concedeu entrevista exclusiva ao JORNAL DO POVO, onde relatou os fatos, citando momentos onde pensou que ia morrer e o processo de recuperação clínica, além dos transtornos profissionais, familiares e psicológicos que está enfrentando após o episódio.
O autor dos disparos foi o policial penal Gilson Júnior dos Santos, de 50 anos, que segue foragido. Um advogado que o representa entregou a arma do crime à Policia Civil.
Houve pânico e correria de clientes que estavam no supermercado no momento dos seis tiros, dos quais três atingiram a vítima.
RIXA COMEÇOU HÁ MAIS DE 20 ANOS EM UMA FILA DE CAIXA... NO TAUSTE!
A rixa entre Jhonny e Gilson começou há mais de vinte anos. E justamente em uma fila de caixa no Supermercado Tauste Norte! "Eu tinha dezesseis para dezessete anos. Estava na fila do caixa rápido, na frente dele (Gilson), quando ele bateu no meu ombro e passou na minha frente. Eu falei que ele tinha que esperar. Foi aí que ele achou ruim e quis arrumar briga comigo. Fora do supermercado, me mostrou um cacetete em tom de ameaça. A partir daí, ele começou a pegar rixa de mim", lembrou Jhonny.
Ele disse que os atritos continuaram, principalmente pelo fato de Gilson morar vizinho da casa de sua mãe. "Eu morava com a minha mãe, na época e as provocações e ameaças do Gilson eram constantes. Ele dizia no bar que frequentava e para um tio meu que andava com ele, que ia me matar. Isso antes dele virar policial penal. A situação se acirrou porque ele perguntava muito da minha vida", explicou.
As provocações resultaram no registro de um Boletim de Ocorrência, de ambas as partes, há cerca de sete anos, por conta da colocação de lixo na porta da casa da mãe de Jhonny. "O Gilson e um outro rapaz criaram a situação para me provocar e houve até ameaça de morte também contra a minha a mãe", lembrou.
O confeiteiro disse que procurava evitar aproximação com o desafeto. "Mas ele sempre ficava provocando. Sempre me ameaçava de morte. Eu sabia que um dia esta situação de confronto ia acabar acontecendo, principalmente depois que ele virou policial penal e passou a andar armado. Várias vezes ele exibiu a arma".
Em meio a situação de conflito, Jhonny disse que em certa oportunidade pediu perdão para Gilson e queria por um fim à rixa. "Mas ele não aceitou, disse que "não era bem assim que se resolvia as coisas" e continuou com as ameaças".

Jhonny com a esposa, Camila
DIA CALMO E CHEGADA NO SUPERMERCADO
Acompanhado da esposa, a professora Camila Araújo, de 32 anos (que estava junto com ele no dia dos fatos), Jhonny lembrou que pegou ela no trabalho e foram para o estabelecimento, por volta das 18h30. "Estava um dia tranquilo, além de sábado, era feriado".
Jhonny conta que, quando estava em um dos corredores, próximo ao setor de hortifrutis, Gilson se aproximou e empurrou um carrinho de compras em cima dele e de sua esposa, além de proferir ameaças. "Eu pensei em reagir à provocação e falei para a minha esposa: "esse cara tá procurando!". As ameaças dele, inclusive de morte, já vinham ocorrendo há vários anos. Mas, naquele momento no supermercado, como ele levantou a camisa e mostrou a arma (um revólver) eu tive que me conter", disse Jhonny.
Em meio a tensão criada no local, Camila solicitou que um dos seguranças do supermercado intervisse e acionasse a Polícia Militar. "Era a única forma da gente sair de lá em segurança, porque o Gilson estava armado e fazendo ameaças e provocações contra nós. Quando ele viu que a gente havia apontado ele para o segurança, ficou mais alterado e já veio para atirar", explicou.
Jhonny conta que também solicitou apoio do segurança do supermercado diante da situação. "Mas nenhuma providência foi tomada, nada! E acabou acontecendo tudo aquilo comigo, além dos riscos que os clientes do supermercado ficaram expostos".
FALHAS DA SEGURANÇA
O casal entende que houve falha e negligência na segurança do estabelecimento. "Se o segurança tivesse chamado a polícia quando eu avisei que o cara estava armado, não teria ocorrido aquele desfecho. Além do Jhonny ser baleado três vezes, o homem ainda deu outros três tiros que poderiam ter atingido outras pessoas, inclusive crianças que estavam por perto do ocorrido, como mostram imagens das câmeras do supermercado", disse Camila.
Jhonny afirmou que, antes de iniciar os disparos, Gilson pegou fardos de bebidas. "Ele pretendia jogar os fardos em cima de mim, mas desistiu e sacou a arma. Nesse momento, eu comecei a correr para sair da linha de tiros dele. Em nenhum momento eu larguei a cesta de compras. Quando levei o primeiro tiro no abdômen, senti um peso nas pernas, mas não cai. Se tivesse caído, certamente seria um alvo fácil dele e os outros tiros seriam à queima-roupa. Deus me deu esse livramento!", explicou. Outros dois projéteis atingiram as costas e a mão direita de Jhonny.
O confeiteiro "fez uma curva" (como narrou) e correu até um dos balcões dos caixas, onde caiu. "Como acabaram as munições da arma, o Gilson começou a chutar ele. Ninguém interveio, mas eu fui e abracei o Jhonny. Minha blusa ficou cheia de sangue. Disse para ele se acalmar e não dormir, e que Deus não o deixaria morrer. Com uma das mãos eu tentava estancar o sangue do ferimento mais grave dele e com a outra eu ligava para a polícia e pedia para chamarem o SAMU", contou Camila, que é neta de médica.
O casal criticou também a demora do socorro. "O SAMU demorou mais de vinte minutos para chegar".
Camila disse que quando chegou no estacionamento do supermercado, o agressor ainda estava lá. "E ele ainda ficou me intimidando. Como eu sabia que ele não tinha mais munições, consegui me controlar".

NOITES SEM DORMIR
Jhonny disse que "vive um pesadelo" desde o dia que foi baleado. "São noites sem dormir, preocupação. Eu e minha esposa vivemos um pavor, porque moramos vizinhos da família do Gilson e há situações preocupantes. O cara tá foragido e não sabemos onde ele está. Só vou sossegar quando ele for preso", disse.
O panificador afirmou que deseja que o agressor seja capturado e pague pelo crime que cometeu. "Não tenho sentimento de vingança. Quero justiça", explicou.
Desde o ocorrido, Jhonny está impossibilitado de exercer suas atividades de panificador, instrutor de artes marciais e influenciador e criador de conteúdo digital (instagram zullujk). Nas redes sociais, ele tem mais de 7 mil seguidores (já teve mais de 500 mil em uma página que foi hackeada).
Ele disse que dias antes de ser atacado, havia entregado currículo em uma empresa de segurança, teve a contratação aprovada e começaria a trabalhar na semana seguinte. "Tudo isso está comprovado em documentação. Fiquei seis dias internado. Minha vida virou do avesso e hoje eu quero, mas não consigo fazer mais nada. Penso em tudo o que aconteceu, as vezes choro e busco apoio espiritual. Praticamente, nem saio de casa", explicou.
DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
As advogadas Patrícia Pires dos Santos, Simone Coelho e Lidiane Lopes representam Jhonny no âmbito judicial. Elas não quiseram dar detalhes sobre as estratégias de atuação no caso.
Informaram ao JORNAL DO POVO que o Ministério Público Estadual já ofereceu denúncia contra Gilson Júnior dos Santos por tentativa de homicídio por motivo fútil e diversas outras qualificadoras.
Os autos estão com o juiz Paulo Gustavo Ferrari, da 2a Vara Criminal do Fórum de Marília. A expectativa é que a denúncia do MP seja acatada e o acusado pronunciado a Júri Popular.











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